Trinta anos depois da criação da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, um dos maiores marcos globais na luta pela igualdade de gênero, a Organização das Nações Unidas Mulheres (ONU Mulheres) divulgou um novo relatório que revela tanto avanços quanto retrocessos nos direitos das mulheres. O documento, publicado nesta quinta-feira (6), analisou a situação em 159 dos 189 países signatários, trazendo um panorama da luta feminina por igualdade.
O levantamento mostra que, apesar de algumas conquistas, quase um quarto dos governos relataram perdas significativas nos direitos das mulheres nos últimos anos. O documento organiza os dados em três grandes frentes: avanços que precisam de aceleração, progresso desigual e retrocessos preocupantes.
Avanços Que Precisam De Aceleração
Desde 1995, mais de 1.500 reformas legais foram implementadas para garantir a igualdade de gênero. No entanto, as mulheres ainda possuem apenas 64% dos direitos que os homens já conquistaram.
A presença feminina nos parlamentos mais que dobrou desde a criação da Declaração de Pequim, mas os homens ainda ocupam três em cada quatro cadeiras legislativas.
O acesso das mulheres à internet cresceu de 50% para 65% entre 2019 e 2024, mas a desigualdade digital ainda é um desafio. Em 2024, havia 277 milhões de homens a mais do que mulheres conectados no mundo.
A proteção social para mulheres também cresceu nos últimos anos, alcançando um terço da população feminina global. Mesmo assim, 2 bilhões de mulheres e meninas ainda não têm acesso a esses benefícios.
Progresso Desigual E Mulheres Sendo Deixadas Para Trás
A extrema pobreza continua afetando 10% das mulheres e meninas, sendo que esse número salta para 24% entre aquelas com idade entre 18 e 34 anos, especialmente as mães de crianças pequenas.
Embora as meninas tenham superado os meninos nas taxas de conclusão do ensino médio na maioria das regiões, a África Subsaariana e a Ásia Central e Meridional continuam muito atrás. Mais de 59,5 milhões de adolescentes ainda estão fora das salas de aula.
Os casamentos infantis diminuíram globalmente, passando de 24% para 19% entre 2003 e 2023. No entanto, essa redução aconteceu três vezes mais rápido entre as famílias ricas do que entre as mais pobres.
O acesso das jovens ao planejamento familiar moderno avançou, mas apenas dois terços das suas necessidades são atendidas, colocando-as em desvantagem em relação a outras faixas etárias.
Retrocessos Preocupantes Nos Direitos Das Mulheres
Desde 2022, a violência sexual aumentou 50% em áreas de conflito, com mulheres e meninas representando 95% das vítimas.
A desigualdade de gênero no mercado de trabalho permaneceu praticamente estagnada por décadas. Atualmente, 63% das mulheres de 25 a 54 anos fazem parte da força de trabalho, enquanto entre os homens esse percentual é de 92%. Além disso, as mulheres ainda ganham, em média, 2,5 vezes menos que os homens.
A taxa de mortalidade materna teve uma queda significativa entre 2000 e 2015, mas desde então o avanço estagnou, mantendo-se em níveis alarmantes em diversas regiões do mundo.
Entre 2021 e 2022, apenas 42% dos recursos destinados a programas de igualdade de gênero foram mantidos, um recuo em relação ao período anterior (2019-2020), quando esse percentual era de 45%. Mais alarmante ainda é o fato de que apenas 4% desse dinheiro foi investido em programas que tinham a igualdade de gênero como foco principal.
A Nova Agenda Pequim+30: 6+1 Medidas Para Mudar O Jogo
Diante desse cenário, a ONU Mulheres lançou a Agenda de Ação Pequim+30, um plano estratégico para impulsionar a igualdade de gênero nas próximas décadas. Segundo Sima Bahous, diretora executiva da ONU Mulheres, “o trigésimo aniversário da Plataforma de Pequim é uma oportunidade para acelerar ações e garantir que as mulheres não fiquem para trás”.
A agenda foca em seis grandes ações:
- Reduzir a desigualdade digital de gênero
- Colocar as mulheres no centro do desenvolvimento econômico
- Combater a violência contra as mulheres
- Aumentar a liderança feminina na tomada de decisões
- Ampliar a participação das mulheres em processos de paz e segurança
- Lutar pela justiça climática
O “+1” na agenda representa a inclusão essencial da juventude nesses esforços, garantindo que as decisões de hoje tenham impacto real no futuro.
A Luta Continua
Apesar dos avanços, os dados mostram que o caminho para a igualdade de gênero ainda está longe do ideal. Com desafios que vão desde o mercado de trabalho até a violência de gênero, é necessário que governos, empresas e a sociedade civil redobrem os esforços para garantir que direitos já conquistados não sejam perdidos e que novos avanços sejam alcançados.
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