Na primeira semana da nova versão da novela Vale Tudo, exibida no horário nobre da televisão brasileira, a personagem Solange Duprat, interpretada por Alice Wegmann, se tornou o centro de um debate quente nas redes sociais. A razão? Uma simples cena em que ela aparece com uma taça de vinho nas mãos. O que parecia um detalhe comum virou um estouro na internet: “Quem tem diabetes pode tomar vinho?” foi a pergunta que mais apareceu nos comentários.
A nova trama escrita por Manuela Dias recria o clássico dos anos 80 com um olhar moderno e mais próximo das discussões atuais. E, neste novo contexto, Solange é uma mulher independente, direta e que vive com diabetes tipo 1. Com isso, a novela acabou tocando em um tema que, apesar de atingir milhões de brasileiros, ainda é pouco representado na TV: a rotina real de quem vive com diabetes e precisa lidar diariamente com insulina, glicemia, alimentação e os cuidados que esse diagnóstico exige.
Diabetes tipo 1: a vida real por trás da ficção
Nas primeiras cenas de Solange, é possível ver a personagem conferindo os níveis de glicose com um aparelhinho sempre à mão, além de aplicar insulina antes de sair para o jantar. A naturalidade com que isso é mostrado chama atenção. Muita gente não sabia que esse tipo de controle faz parte do dia a dia de quem convive com diabetes tipo 1, condição que exige disciplina, planejamento e atenção constante.
Para esclarecer as dúvidas que surgiram após o episódio, conversamos com o cardiologista Edmo Atique Gabriel, especialista em cirurgia cardiovascular e nutrologia médica. Ele explicou que sim, é possível viver bem com diabetes, desde que haja cuidado com alimentação, controle glicêmico e uso correto da insulina.
“Quem tem diabetes tipo 1 não produz insulina suficiente e, por isso, precisa aplicar todos os dias. Isso ajuda a manter os níveis de glicose no sangue sob controle e evita complicações sérias, como a hipoglicemia, que é a queda do açúcar no sangue”, explicou o médico.
Vinho pode, mas com moderação e atenção redobrada
A dúvida que mais circulou nas redes foi sobre a cena da taça de vinho. Dr. Edmo foi direto ao ponto: “Sim, quem tem diabetes pode tomar vinho. O segredo está na moderação e no tipo da bebida. É melhor evitar os vinhos mais doces e limitar a quantidade a duas ou três taças pequenas por semana.”
A recomendação geral é que a pessoa esteja com a glicemia controlada e, se possível, tenha feito a aplicação correta de insulina antes da ingestão da bebida. O que foi exatamente o que a personagem Solange disse ter feito ao sair para o encontro.
“Ela aplicou a insulina antes de sair de casa, o que é uma estratégia comum para quem sabe que vai consumir alimentos ou bebidas mais calóricas. Principalmente se for a insulina de ação rápida, que começa a agir logo após a aplicação”, afirma o especialista.
Insulina na bolsa: pode levar para o rolê?
Outra cena que gerou comentários foi quando Solange retira a insulina da bolsa em um jantar romântico. Surgiu a dúvida: “Mas insulina não tem que ficar gelada?”. Segundo o Dr. Edmo, insulina pode sim ser transportada fora da geladeira, desde que seja em bolsas térmicas ou, no mínimo, que não fiquem expostas ao calor excessivo. Ou seja, está tudo certo com a personagem.
Além disso, o médico reforça que a aplicação da insulina antes das refeições, especialmente da versão de ação rápida, ajuda a evitar picos glicêmicos depois de comer. “É uma prática comum e recomendada para evitar que o açúcar no sangue suba demais após uma refeição.”
Representatividade com responsabilidade no horário nobre
Alice Wegmann disse que tem consciência da importância de representar essa realidade em rede nacional, em um dos horários mais assistidos do país. “Vamos falar sobre isso com naturalidade. É uma doença que afeta muita gente. E muita gente não sabe como funciona. A novela pode ajudar a informar, esclarecer e até desmistificar o diabetes tipo 1”, contou a atriz.
Na vida real, milhões de pessoas enfrentam todos os dias as mesmas situações vividas por Solange: o controle do que se come, o cuidado com os horários da insulina, a atenção redobrada ao sair de casa e, claro, os olhares curiosos ou desinformados de quem ainda não conhece a rotina de quem tem DM1.
Muito além da novela: o que fica para quem assiste
A novela reacendeu um debate necessário e relevante. Representar na televisão uma condição de saúde que muitas vezes é invisível ou mal compreendida pode ser um passo importante para quebrar preconceitos e incentivar o conhecimento. Mais do que mostrar que quem tem diabetes pode tomar vinho, a novela mostra que quem tem diabetes pode viver plenamente.
Desde que haja cuidado, informação e acesso aos recursos corretos, é possível sim viver bem com diabetes tipo 1. E se a ficção conseguir inspirar mais gente a entender isso, a missão já começa a ser cumprida.
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