O aumento de 96% no salário da prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), que levaria sua remuneração para R$ 41.845,62, foi o estopim para uma verdadeira troca de alfinetadas entre a gestão municipal e a Câmara Municipal. Enquanto a prefeita já afirmou que é contra o reajuste e prometeu acionar a Justiça para barrar a decisão, a Câmara defende que a medida é necessária para corrigir perdas inflacionárias acumuladas nos últimos 12 anos, beneficiando também 408 servidores municipais.
Prefeita contra o aumento
Adriane Lopes foi categórica ao rejeitar o reajuste aprovado pelo legislativo. “O município não está em condições de absorver este impacto neste momento. Eu não posso aceitar este aumento porque estamos com contenção de gastos públicos”, afirmou em um vídeo divulgado nas redes sociais. A prefeita ainda destacou que, caso não consiga barrar o aumento na Justiça, pretende doar parte do salário a instituições de assistência social, educação e saúde de Campo Grande.
Câmara defende reajuste
Do outro lado, o presidente da Câmara Municipal, Epaminondas Neto, o Papy (PSDB), defendeu o aumento como uma medida técnica para descongelar carreiras. Segundo ele, o reajuste é necessário para corrigir a defasagem salarial que impacta centenas de servidores vinculados ao teto salarial da prefeita. “Há 12 anos esse teto não era reajustado. Isso congelou diversas carreiras que dependem desse teto para avançar”, explicou.
Papy também ressaltou que a medida não foi um pedido da prefeita e nem é um “presente” para ela. “Quando a Câmara reajusta, é para descongelar os salários de 408 servidores que estão há mais de uma década sem a correção da inflação. Não é prêmio para ninguém”, destacou. O impacto financeiro estimado é de R$ 16 milhões por mês, somando mais de R$ 200 milhões por ano na folha de pagamento municipal.
Impacto financeiro e polêmica
A discussão sobre o reajuste não se limita à questão salarial. Há preocupação com a capacidade financeira do município para arcar com o aumento. De acordo com a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024, o município prevê gastar cerca de R$ 3,39 bilhões com pessoal. O reajuste salarial da prefeita e dos servidores vinculados ao teto representará 6% desse montante.
Papy também lembrou que no mandato anterior havia folhas complementares que garantiam ganhos adicionais para servidores comissionados, compensando a falta de reajuste no salário base. “Os salários estavam congelados, mas havia planos de trabalho, GTons e comissões que compensavam a remuneração de acordo com as funções exercidas”, afirmou.
Opiniões divididas
A decisão de reajustar os salários foi considerada corajosa pelo presidente da Câmara. “É uma prerrogativa do vereador, prevista em lei, e quando o legislativo não cumpre essa determinação, está sendo omisso. Não foi uma decisão fácil, mas foi necessária”, concluiu Papy.
No entanto, a medida gerou desgastes na relação entre o executivo e o legislativo logo nos primeiros dias do ano. Além disso, a possibilidade de a prefeita ter o maior salário entre os prefeitos das capitais brasileiras também levantou críticas da população e da oposição.
Revolta da população
Nas ruas, o aumento salarial da prefeita gerou indignação entre os trabalhadores assalariados. Maria Aparecida, atendente de uma lanchonete, desabafou: “Enquanto isso, a gente luta pra ganhar um salário mínimo que mal dá pra pagar as contas. Um aumento desses é um desrespeito com o povo.” Já João Carlos, motorista de aplicativo, criticou o impacto nos cofres públicos: “Esse dinheiro podia ser investido na saúde ou na educação, que estão precárias. Não tem como a população aceitar isso calada.”
Para muitos, a justificativa de corrigir perdas inflacionárias não convence. “Eles falam de congelamento de salários, mas e o nosso? O trabalhador comum nunca teve reajuste compatível com a inflação. Isso só mostra como a política está distante da realidade do povo”, afirmou Renata Souza, professora da rede pública.
Prefeita busca alternativas
Enquanto isso, a prefeita Adriane Lopes segue defendendo que a contenção de gastos é essencial para o equilíbrio financeiro do município. “Meu compromisso é com a responsabilidade fiscal e com o uso eficiente dos recursos públicos. Não podemos comprometer o orçamento da cidade neste momento”, reforçou.
A decisão final sobre o reajuste deve ser definida nos próximos meses, após a judicialização do caso, e promete continuar movimentando o cenário político de Campo Grande.