A temporada 2024/25 de colheita do algodão brasileiro começou sob uma contradição desconfortável: enquanto a produção avança para alcançar novos recordes, os preços da commodity seguem em queda acentuada no mercado internacional. A realidade está preocupando produtores e levantando alertas quanto à rentabilidade e ao futuro do setor, em especial diante da ausência de sinais de recuperação nos preços de mercado.
Segundo estimativas mais recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deverá colher 3,9 milhões de toneladas de algodão em pluma nesta safra, um crescimento de 5,5% em relação ao ciclo anterior. Se confirmada, será a maior produção da história, superando o recorde registrado na temporada 2023/24. No entanto, esse desempenho produtivo expressivo contrasta com o panorama desanimador do mercado global, que impõe desafios significativos à sustentabilidade econômica da atividade.
Na bolsa de Nova York, referência para os contratos da pluma no Brasil, a cotação do algodão acumula queda de 12,2% nos últimos doze meses. No fechamento de ontem, os contratos para dezembro foram negociados a 68,80 centavos de dólar por libra-peso, bem abaixo dos 77 centavos observados um ano antes. Em junho de 2023, o preço da libra-peso superava os 82 centavos, reforçando a tendência de desvalorização persistente.
Carlos Alberto Moresco, produtor em Luziânia, Goiás, ilustra bem as dificuldades enfrentadas pelo setor. “Neste ano, a margem está apertada e há o risco até mesmo de ficar no zero a zero, pois enfrentei um período de 42 dias sem chuva. Eu esperava uma produtividade de 340 arrobas por hectare, mas agora a expectativa caiu para 260 arrobas. Para conseguir lucro, é necessário atingir rendimentos muito maiores”, relatou.
O algodão está entre as commodities mais sensíveis às variações macroeconômicas e sofre diretamente os impactos da inflação global e da desaceleração nas principais economias do mundo. De acordo com Marcio Portocarrero, diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o consumo global da pluma está estagnado há mais de uma década, enquanto as fibras sintéticas vêm ganhando espaço em função do custo mais acessível.
“A indústria têxtil, especialmente em momentos de crise econômica, tende a priorizar o preço em detrimento da qualidade ou da sustentabilidade. E isso afeta diretamente a demanda pelas fibras naturais”, explicou Portocarrero. Ele alerta, no entanto, que os produtores mais consolidados no setor seguirão ativos, embora os entrantes devam adiar seus planos diante do cenário adverso.
O analista de mercado Pery Pedro reforça que a última vez em que o algodão esteve acima dos 80 centavos de dólar na bolsa americana foi em abril do ano passado, e desde então o movimento tem sido de queda. Segundo ele, essa faixa de preço seria o patamar mínimo necessário para assegurar a rentabilidade de grande parte dos produtores brasileiros.
A conjuntura internacional também contribui para a pressão sobre os preços. A guerra comercial entre grandes potências, os conflitos armados no Oriente Médio — como o recente embate entre Irã e Israel — e as incertezas quanto ao futuro da economia global pesam sobre o mercado. Apesar da alta do petróleo, que costuma encarecer as fibras sintéticas e favorecer o algodão, essa correlação parece, ao menos por ora, inoperante.
Mesmo diante de tamanha pressão, a Abrapa projeta que a área cultivada com algodão deverá ser mantida para a próxima safra, com pouco mais de 2 milhões de hectares. Essa estabilidade, segundo Portocarrero, dependerá de produtores experientes e comprometidos com boas práticas de gestão, sustentabilidade e qualidade.
“Precisamos manter o nosso padrão de excelência. É um trabalho contínuo. Em algum momento essa fase ruim vai passar, e os mercados mais exigentes vão continuar buscando o algodão brasileiro. Temos que estar prontos para isso”, concluiu o dirigente da Abrapa.
Com um mercado instável, margens apertadas e incertezas persistentes, o produtor brasileiro de algodão encontra-se no centro de um cenário que exige não apenas eficiência técnica e financeira, mas também resiliência e visão de longo prazo.
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