O preço do boi gordo, um dos principais indicadores da pecuária de corte no Brasil, continua enfrentando um cenário desafiador, sem apresentar sinais consistentes de recuperação no curto prazo. A quinta-feira, 15 de maio, marcou mais um dia de instabilidade no setor, refletindo o desequilíbrio entre oferta e demanda que vem se acentuando nas últimas semanas.
Segundo levantamento da Scot Consultoria, das 32 praças pecuárias monitoradas em todo o território nacional, 19 apresentaram estabilidade nas cotações e 13 registraram queda nos valores. O mercado segue pressionado pela intensificação dos abates, pela demanda interna desaquecida e pela ausência de estímulos externos que possam reverter o atual ciclo de baixa.
Em São Paulo, nas tradicionais praças de Araçatuba e Barretos, a arroba do boi gordo manteve-se cotada a R$ 313 para o pagamento a prazo. As demais categorias, como a vaca e a novilha, além do chamado “boi China” que atende aos padrões exigidos pelo mercado chinês de exportação também não sofreram alterações em relação ao dia anterior, embora o setor como um todo observe forte resistência à valorização.
A chegada da estação seca, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, amplia a preocupação dos criadores. Com a redução da qualidade das pastagens, há uma tendência natural de aumento na oferta de animais para abate, o que por sua vez pressiona ainda mais as cotações. A necessidade de desocupar pastos e adequar lotações obriga muitos pecuaristas a liquidar rebanhos em condições menos favoráveis, aprofundando a fragilidade do mercado.
Um agravante apontado pelos analistas da Scot Consultoria está no comportamento das indústrias frigoríficas, que operam com escalas de abate já confortáveis, com programação de até oito dias, o que reduz a urgência por novas compras. Além disso, o ritmo lento de escoamento da carne bovina no mercado interno reflexo da renda comprimida das famílias e da concorrência de proteínas mais baratas, como frango e ovos contribui para o arrefecimento da procura por bois prontos.
No entanto, há sinais tênues de melhora em algumas regiões. No estado de Mato Grosso, por exemplo, dados da Agrifatto Consultoria indicam que os abates apresentaram recuperação em abril, após dois meses de retração. Foram abatidas cerca de 581 mil cabeças no mês, representando um avanço mensal de 6,29%. O desempenho pode sinalizar o início de uma reversão no ciclo pecuário, embora o acumulado do ano ainda registre queda de 1,76% no abate de fêmeas e 3,69% no de machos, em comparação com o mesmo período de 2024.
A consultoria aponta que o estado, por ter escalas de abate mais curtas, menor volume de fêmeas descartadas e diferencial de base praticamente zerado, reúne condições para se tornar uma das primeiras regiões a iniciar uma nova fase de valorização no ciclo da pecuária. No entanto, tal projeção ainda depende de múltiplos fatores, incluindo a retomada da demanda internacional, em especial da China, que segue enfrentando incertezas geopolíticas e sanitárias.
Do ponto de vista logístico, o cenário atual também coloca em alerta os frigoríficos exportadores, que precisam lidar com custos elevados e margens estreitas. A valorização do real frente ao dólar também tem reduzido a competitividade da carne brasileira no mercado externo, limitando o espaço para grandes volumes de exportação com rentabilidade.
Em resposta à crise, diversas associações e entidades representativas do setor têm solicitado ao governo federal a criação de linhas de crédito emergenciais, estímulos para exportação e revisão de impostos incidentes sobre a cadeia produtiva. No entanto, até o momento, não há anúncio oficial de medidas com impacto direto sobre o escoamento da produção ou valorização da arroba.
Especialistas alertam que, se não houver mudanças na dinâmica de mercado ou intervenções pontuais para apoiar os produtores, a tendência é de continuidade do movimento de baixa até pelo menos o início do segundo semestre, quando as primeiras chuvas da próxima estação começam a renovar os pastos.
A conjuntura delicada exige planejamento dos pecuaristas, que devem priorizar a gestão de custos e evitar sobrecargas de rebanho durante os meses mais secos. A adoção de tecnologias de suplementação alimentar, manejo intensivo e integração com lavoura e floresta tem sido recomendada como alternativa para reduzir a dependência do ciclo natural das pastagens.
O cenário, portanto, permanece desafiador, exigindo resiliência do setor e atenção constante às variações de mercado. A pecuária brasileira, embora sólida, atravessa um momento de inflexão que pode definir os rumos do segundo semestre e do ciclo produtivo dos próximos anos.
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