No município de Soure, no Arquipélago do Marajó (PA), o prefeito Paulo Victor Silva lembra de um tempo em que a natureza seguia um padrão previsível. “A gente sabia que, em março, a maré ficava mais alta e nos preparávamos. Mas agora acontece em setembro, dezembro, janeiro”, conta. As mudanças climáticas nunca foram tão evidentes, e as cidades estão sentindo os impactos diretos.
Ele foi um dos mais de 3,3 mil prefeitos que participaram de um encontro nacional de gestores em Brasília, onde pediram mais apoio para enfrentar eventos extremos como enchentes, secas e erosões. “O mar está batendo na casa das pessoas. Estão caindo muitas casas”, lamenta o prefeito.
Capacitação e preparo para emergências
Antes do encontro, o ministro Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República, destacou a importância de capacitar os prefeitos para agir diante dessas emergências. Uma das novidades do evento foi a plataforma “Prefeitar”, que simula desastres ambientais e ensina gestores a montar uma sala de crise, acionar recursos da Defesa Civil e organizar equipes.
A secretária executiva adjunta da SRI, Juliana Carneiro, ressaltou que muitos prefeitos desconhecem os trâmites burocráticos para conseguir ajuda federal. “Às vezes, o prefeito não sabe que precisa entrar no sistema da Defesa Civil e preencher documentos para que a situação de emergência seja reconhecida”, explicou.
Municípios na linha de frente da crise climática
Durante o evento, prefeitos participaram de oficinas e palestras para aprender como reagir a desastres e acessar verbas federais. O presidente da Associação Brasileira de Municípios, Ary Vanazzi, frisou que o debate sobre mudanças climáticas deve começar nos municípios. “Tem gente que acha que esse problema é do governo federal ou da ONU. Mas quem sente primeiro são as cidades”, afirmou.
O prefeito de Santo Antônio do Jacinto, Edemark Pinheiro, relatou que as enchentes passaram a ser mais frequentes entre outubro e março, afetando os pouco mais de 10 mil habitantes da cidade. Situação parecida acontece em Orindiúva, com 7 mil moradores. “Meu município não tinha Defesa Civil, tivemos que criar. Isso gera mais custos, mas é necessário. Não importa o tamanho da cidade, todas precisam estar preparadas”, disse a prefeita Mireli Martins.
A urgência de ações concretas
Os impactos climáticos não são apenas ambientais, mas também sociais e econômicos. Prefeitos de diversas regiões alertam que a falta de planejamento e investimento pode agravar desigualdades, deslocar populações inteiras e comprometer setores produtivos essenciais. O prefeito de Barra do Bugres (MT), André Nezello, ressaltou que as secas prolongadas têm prejudicado a agricultura local. “Os pequenos produtores estão perdendo safras inteiras e não sabem como se adaptar. Precisamos de tecnologia, incentivos e orientação”, afirmou.
Além dos eventos extremos, as mudanças climáticas também alteram a dinâmica das cidades. O aumento da temperatura em áreas urbanas tem elevado os custos com saúde pública devido ao crescimento de doenças relacionadas ao calor e à falta de saneamento adequado. “O aumento da temperatura gera mais casos de dengue e outras doenças. Isso sobrecarrega o sistema de saúde municipal”, alertou a prefeita de Feira de Santana (BA), Flávia Guimarães.
Diante desse cenário, os prefeitos reforçaram o apelo por investimentos em infraestrutura resiliente, programas de reflorestamento e incentivos para a transição energética. “Não dá mais para esperar. Precisamos de um pacto nacional para enfrentar essa crise antes que seja tarde demais”, declarou o presidente da Associação Brasileira de Municípios.
Os prefeitos saíram do encontro com um recado claro: é preciso agir rápido. A crise climática não escolhe cidade grande ou pequena. Sem apoio, os gestores temem que seus municípios se tornem cada vez mais vulneráveis.
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