O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Janja da Silva foram recebidos pelo imperador do Japão, Naruhito, e a imperatriz Masako, às 21h20 desta segunda-feira (24), manhã de terça-feira (25) no horário oficial de Tóquio (12 horas à frente do horário de Brasília). A cerimônia de boas-vindas, com honras militares, ocorreu no Palácio Imperial, na capital japonesa, no primeiro ato oficial da visita de Estado de Lula ao país asiático.
De acordo com o Palácio do Itamaraty, as visitas de Estado ao Japão são raras e altamente protocolares, organizadas no máximo uma vez por ano. Esta é a primeira visita de Estado organizada pelo Japão desde 2019, o que reforça a relevância diplomática do encontro. Além disso, Brasil e Japão celebram, em 2025, 130 anos de relações diplomáticas. O Brasil abriga a maior população nipodescendente fora do Japão, com cerca de 2 milhões de pessoas, enquanto o Japão possui a quinta maior comunidade brasileira no exterior, com aproximadamente 200 mil pessoas.
Após a recepção oficial, Lula e Janja cumprimentaram a delegação japonesa ao som de clássicos da música brasileira, como “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, executada pela banda militar imperial. O presidente seguiu então para uma reunião reservada com o casal imperial, momento em que foram discutidos temas como os laços históricos entre os dois países, a comunidade brasileira no Japão e as expectativas para fortalecer ainda mais as relações bilaterais.
Comitiva brasileira e agenda oficial
A delegação brasileira que acompanha Lula é composta por cerca de 20 ministros, parlamentares e autoridades, incluindo os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). Entre os ministros que integram a comitiva estão Mauro Vieira (Relações Exteriores), Fernando Haddad (Fazenda), Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária) e Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima). A presença de ministros ligados à economia e ao meio ambiente reforça a importância estratégica da visita, tanto para o fortalecimento comercial quanto para as discussões sobre sustentabilidade e transição energética.
Após o encontro reservado com o casal imperial, Lula participou de um almoço privado e, posteriormente, teve uma reunião com empresários da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC). O objetivo do encontro foi estreitar as negociações para abrir o mercado japonês para a carne bovina brasileira, uma das principais esperanças do setor agropecuário brasileiro.
No início da noite de terça-feira, horário local, a delegação brasileira participou de um jantar oferecido pelas majestades imperiais. Já na quarta-feira (26), Lula participará do Fórum Empresarial Brasil-Japão, um evento que reunirá cerca de 500 empresários dos dois países, seguido de uma reunião com o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba. O encontro com Ishiba é considerado um dos momentos mais esperados da viagem, pois deve avançar as negociações para um possível acordo entre o Japão e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), além de tratar da cooperação bilateral em diversas áreas, como infraestrutura, tecnologia e inovação.
Esperança de novos acordos comerciais
Uma das principais expectativas da visita é a abertura do mercado japonês para a carne bovina brasileira. O Japão tem um dos mercados mais rigorosos do mundo quando se trata de importação de alimentos e, atualmente, só aceita carne brasileira de algumas regiões específicas e com exigências sanitárias rígidas. A ampliação do acesso da carne bovina brasileira ao mercado japonês representaria um grande avanço para o agronegócio nacional e poderia gerar bilhões de dólares em exportações adicionais.
Outro ponto crucial da viagem é a negociação de um acordo comercial entre o Mercosul e o Japão. O Brasil busca avançar nas tratativas para estabelecer uma relação comercial mais ampla com o país asiático, reduzindo barreiras tarifárias e estimulando o comércio bilateral. Atualmente, o Japão é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil na Ásia e o terceiro maior destino das exportações brasileiras para a região. Em 2024, o intercâmbio comercial entre os dois países atingiu US$ 11 bilhões, com um superávit de US$ 148 milhões para o Brasil. O Japão também figura entre os maiores investidores no Brasil, com um total de US$ 35 bilhões em investimentos diretos, sendo o segundo maior investidor asiático no país.
Além das questões comerciais, o Brasil também busca fortalecer parcerias nas áreas de tecnologia, infraestrutura e sustentabilidade. O governo brasileiro pretende discutir iniciativas conjuntas para o desenvolvimento de energias renováveis, descarbonização da economia e cooperação em projetos ambientais, alinhando-se às diretrizes globais para a transição energética.
Próximos passos e viagem ao Vietnã
Após os compromissos no Japão, Lula seguirá para Hanói, no Vietnã, onde cumprirá agenda oficial nos dias 28 e 29 de março. A visita ao Vietnã também tem forte caráter econômico, especialmente para aprofundar relações comerciais e ampliar a exportação de produtos brasileiros para o mercado vietnamita. O primeiro-ministro do Vietnã, Pham Minh Chính, esteve no Brasil em 2023, e a visita de Lula reforça a intenção de estreitar os laços entre os dois países.
A viagem de Lula ao Japão e ao Vietnã simboliza um esforço estratégico para fortalecer a presença do Brasil no mercado asiático, ampliar as exportações e consolidar parcerias em áreas-chave para o futuro econômico e ambiental do país. O desfecho das negociações e os possíveis acordos firmados devem impactar diretamente diversos setores da economia brasileira nos próximos anos.
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