O vídeo publicado pelo deputado estadual João Henrique Catan (PL) no dia 11 de fevereiro, já com mais de 310 mil visualizações, tem gerado uma verdadeira onda de indignação, mas também de polêmica. O conteúdo, em que o parlamentar faz ataques pesados à professora trans Emy Mateus Santos, não apenas expõe falas transfóbicas, mas parece também refletir uma postura perigosa sobre os limites do discurso político, especialmente de uma figura pública que ocupa um cargo de poder.
Emy, professora de artes da Rede Municipal de Educação (Reme) de Campo Grande, foi alvo de chacota por Catan, que a chamou de “homenzarrão” e fez outros comentários debochados e de cunho agressivo, como “professor homem precisa ter tetas” e “professor de saia e de teta”. As palavras do deputado, em pleno ano de 2025, representam um ataque frontal à identidade de Emy, mas também aos direitos da comunidade trans como um todo.
A reação da sociedade não demorou a chegar. Nas redes sociais, um clima de revolta se instaurou. Emy, que já sofria com a pressão de ser uma mulher trans vivendo no Brasil, passou a ser alvo de ameaças de violência, com comentários sugerindo que iriam até sua escola para agredi-la. A tensão aumentou com a publicação de Catan, que foi acusada de incitar discurso de ódio, promovendo a transfobia de forma explícita.
O que poderia ser apenas mais um episódio de bullying virou um verdadeiro impasse político. A Defensoria Pública entrou em cena, movendo uma ação contra o deputado para exigir a retirada do vídeo do ar e responsabilizá-lo pelas agressões verbais que ele cometeu contra Emy. Emy, que até então buscava apenas seu direito à dignidade e respeito, viu-se diante de um quadro em que a violência verbal se transforava em violência virtual, com consequências reais e dolorosas para sua saúde mental e seu bem-estar.
Entretanto, a atitude de Catan não é novidade para quem acompanha o seu histórico político. Conhecido por ser um parlamentar alinhado com posições conservadoras e frequentemente envolvido em polêmicas sobre direitos humanos e minorias, Catan tem sido alvo de críticas por seus posicionamentos radicalmente opostos ao que ele classifica como “imposição de ideologias de gênero”. Durante seu tempo no cargo, ele tem defendido abertamente o “direito dos pais” de interferir nas escolhas de gênero de seus filhos, questionando a inserção de discussões sobre diversidade sexual nas escolas. Para muitos, suas falas e atitudes não são um mero reflexo de uma opinião pessoal, mas sim uma estratégia política para angariar apoio junto ao eleitorado mais conservador e radical.
Essa postura não é nova e tem gerado desconfiança, principalmente quando ele se envolve em questões que dizem respeito à inclusão e ao respeito pelas diferenças. E, se essa atitude já provocava discussões acaloradas, o caso envolvendo Emy Mateus Santos elevou a tensão para um novo patamar. O vídeo que Catan postou, repleto de palavras de baixo calão e sarcasmo, não é apenas uma piada de mau gosto, mas uma provocação calculada, visando reforçar o discurso de que as pessoas trans não merecem respeito.
E não para por aí. A postura de Catan levanta questões mais profundas sobre o papel dos parlamentares em tempos de extrema polarização política e ideológica. A grande pergunta que se coloca é: até onde vai o direito de um político de expressar opiniões que atacam diretamente a dignidade e os direitos de outras pessoas? E até que ponto a liberdade de expressão deve ser usada para incitar o ódio e a discriminação, sem qualquer tipo de responsabilização?
Por trás do ataque de Catan a Emy, muitos veem uma estratégia política calculada para alimentar a retórica de polarização social. A transfobia, frequentemente associada à sua agenda política, agora se materializa em um ato explícito de desrespeito à identidade de gênero da professora. Afinal, como representante do povo, ele deveria ser alguém que trabalha pela união e pelo bem-estar social, e não quem utiliza sua posição para acirrar divisões e disseminar o preconceito.
Nas redes sociais, Catan tem sido tanto defendido por seus seguidores, que consideram suas palavras uma legítima crítica ao que chamam de “agenda progressista”, quanto atacado por aqueles que consideram seu discurso uma afronta aos direitos humanos e à dignidade das pessoas trans. De fato, o caso de Emy se tornou um campo de batalha simbólico entre o conservadorismo radical e a luta por respeito e visibilidade das minorias.
O fato de Catan ter se tornado o centro de uma polêmica envolvendo a transfobia e a liberdade de expressão coloca em cheque o comportamento dos políticos brasileiros em tempos de redes sociais e grande visibilidade online. A falta de limites no que diz respeito ao uso da palavra, especialmente de alguém que possui uma plataforma tão poderosa, abre um debate crucial: até onde um político pode ir ao fazer ataques pessoais a quem não compartilha da mesma ideologia?
Emy, que apenas queria cumprir seu papel como professora de maneira acolhedora e lúdica para seus alunos, agora se vê na linha de frente de uma batalha judicial. Ela não é a primeira, e provavelmente não será a última vítima desse tipo de ataque, mas sua coragem ao processar o deputado e exigir que a transfobia seja responsabilizada é um marco importante na luta pela igualdade de direitos e pela preservação da dignidade humana.
Se o pedido de Emy for aceito pela Justiça, o vídeo de Catan terá que ser retirado do ar e o deputado poderá ser multado em R$ 1 mil por cada dia de descumprimento da ordem judicial. Uma decisão que poderá servir como um precedente importante para proteger a honra de pessoas trans em situações similares, mas também para alertar outros políticos sobre os limites de seus discursos públicos.
Esse episódio não é apenas sobre um vídeo transfóbico; é sobre o impacto que as palavras podem ter na vida real, sobre os danos irreparáveis causados por um discurso de ódio, e sobre a necessidade urgente de um posicionamento claro contra a transfobia na política brasileira.
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