Mato Grosso do Sul, 20 de maio de 2025
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Quase 85% da população preta brasileira declara já ter sofrido discriminação racial

Pesquisa revela rotina de preconceito e expõe urgência de políticas públicas para enfrentar a desigualdade racial no Brasil
Imagem - Brasil de Fato
Imagem - Brasil de Fato

A rotina de milhares de brasileiros e brasileiras negras ainda está profundamente marcada pela sombra da discriminação. De cada cem pessoas pretas no país, oitenta e quatro afirmam já ter sido vítimas de racismo em situações do cotidiano. O dado impactante é parte de uma ampla pesquisa divulgada na terça-feira, 20 de maio, conduzida por organizações da sociedade civil com apoio técnico da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e financiamento do Ministério da Igualdade Racial.

Os resultados da pesquisa, coordenada por Vital Strategies Brasil e Umane, revelam a prevalência da desigualdade racial em espaços públicos e privados, indicando como o preconceito compromete o acesso a direitos básicos, como saúde, emprego e segurança.

Discriminação cotidiana se manifesta em diversas formas

Para mapear as experiências de preconceito, os pesquisadores aplicaram uma escala de discriminação cotidiana por meio de questionários respondidos virtualmente por 2.458 pessoas entre agosto e setembro de 2024. As perguntas investigaram situações comuns de desrespeito, hostilidade e exclusão, com respostas que variavam entre “nunca”, “raramente”, “frequentemente” ou “sempre”.

As questões propunham situações como: “sou tratado com menos gentileza que outras pessoas”, “sou seguido em lojas”, ou ainda “agem como se tivessem medo de mim”. Os resultados foram tabulados com ponderações estatísticas que garantem a representação da diversidade demográfica do Brasil.

Os dados revelam que 51,2% da população preta sente ser tratada com menos gentileza, frente a 44,9% dos pardos e apenas 13,9% dos brancos. Já em relação ao atendimento em restaurantes e lojas, 57% dos pretos relataram pior tratamento, contra 28,6% dos pardos e 7,7% dos brancos. A sensação de estar sendo seguido em estabelecimentos foi relatada por 21,3% dos pretos, número semelhante ao dos brancos e pardos, ambos com 8,5%.

Gráfico: Percentual de discriminação percebida por grupo racial
(Pretos, Pardos e Brancos comparados em diferentes situações de discriminação cotidiana)









Racismo e seus impactos diretos na vida da população negra

O diretor da Vital Strategies Brasil, Pedro de Paula, avaliou os dados como expressão de uma realidade grave e persistente. “A gente vê o abismo que existe na discriminação rotineira na vida das pessoas no Brasil. Tem um grupo que vive prioritariamente e rotineiramente com discriminação”, afirmou, destacando que as consequências se desdobram para além da percepção: “isso impacta em saúde mental, em acesso a serviços, acesso ao emprego, em bem-estar, em autoestima, entre outras coisas”.

A gerente de Investimento e Impacto Social da Umane, Evelyn Santos, acrescentou que essa foi a primeira vez que a escala de discriminação cotidiana foi aplicada com abrangência nacional no Brasil. Segundo ela, os resultados também apontam para a interseccionalidade das discriminações: “a pior situação é das mulheres pretas, 72% delas afirmaram ter sofrido mais de um tipo de preconceito”.

Homens pretos também apresentaram números elevados: 62,1% relataram múltiplas formas de discriminação. Em contraste, entre os brancos, 30,5% das mulheres e 52,9% dos homens apontaram vivências semelhantes.

Cor da pele lidera como fator de preconceito

Ao serem questionados sobre as causas das situações de preconceito vividas, 84% das pessoas pretas apontaram diretamente a cor da pele. Entre os pardos, 10,8% atribuem o preconceito à sua tonalidade, enquanto apenas 8,3% dos brancos relataram ter sofrido discriminação por esse motivo. Outros fatores mencionados pelos entrevistados incluem orientação sexual, situação financeira, religião e obesidade.

Retrato mais amplo da desigualdade racial

O estudo se soma a um corpo robusto de evidências sobre a desigualdade racial no Brasil. O Atlas da Violência, por exemplo, revelou que uma pessoa negra tem 2,7 vezes mais chances de ser vítima de homicídio no país. Dados do Censo 2022 mostram que pretos e pardos representam 72,9% dos moradores de favelas. Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua indica que as taxas de desemprego entre pretos (8,4%) e pardos (8%) superam a de brancos (5,6%).

Esses números, contextualizados com os resultados da pesquisa, evidenciam como o racismo estrutura desigualdades que atingem milhões de brasileiros e brasileiras de maneira sistemática.

Propostas para enfrentamento e transformação

A pesquisa é parte de um esforço maior apoiado pelo Ministério da Igualdade Racial para promover políticas públicas antirracistas, com foco inicial na área da saúde. O Ministério, ao firmar a parceria com as instituições responsáveis, destacou a importância de utilizar dados como estes para aprimorar a resposta do Estado ao racismo institucional, especialmente no Sistema Único de Saúde.

Pedro de Paula defendeu ações concretas e urgentes: “a gente sabe que tem muito mais violência obstétrica com mulheres negras do que com mulheres brancas. A gente sabe que tem muito menos acesso, muito menos dispensação de analgesia e outros tipos de medicação para a população preta”.

Finalizando, ele aponta a necessidade de engajamento coletivo: “qualquer grupo, qualquer organização, governo, sociedade civil, empresa que enderece temas da área social no Brasil, tem o compromisso de lutar contra essa estrutura absolutamente desigual, especialmente do ponto de vista racial”.

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