Mato Grosso do Sul, 25 de abril de 2025
Campo Grande/MS
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Queda no preço do feijão preocupa produtores e expõe fragilidade nas estimativas oficiais

Oferta maior, safra pressionada e negociações lentas indicam cenário desafiador para o mercado nacional da leguminosa

Os preços do feijão, um dos alimentos mais tradicionais da mesa do brasileiro, vêm registrando quedas significativas nas últimas semanas, trazendo preocupação para produtores e agentes do setor agrícola. O cenário, que envolve desde desequilíbrios entre oferta e demanda até divergências entre estimativas oficiais e levantamentos do setor produtivo, mostra que o mercado da leguminosa vive um momento de incerteza e lentidão nas negociações.

De acordo com o levantamento realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, o comércio do feijão de melhor qualidade tem sido pontual, ou seja, acontece de forma esparsa e sem ritmo contínuo. Os produtores mantêm firmeza nos preços pedidos, mas a combinação de uma demanda retraída com aumento na oferta vem derrubando os valores praticados no mercado.

Na última quinta-feira, dia 17 de abril, a saca de 60 quilos do feijão-carioca de alta qualidade foi cotada a R$ 267,73 no noroeste de Minas Gerais. Já o feijão-preto apresentou valor ainda mais baixo: R$ 143,32 no sul do Paraná, refletindo o aumento da disponibilidade do produto e o desaquecimento das compras por parte de atacadistas e varejistas.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), até o dia 13 de abril, cerca de 79,2% da área cultivada com feijão da primeira safra já havia sido colhida no Brasil. Os dados divulgados pela estatal neste mês apontam uma leve queda de 0,9% na oferta interna de feijão para o ano de 2025, o que, à primeira vista, poderia indicar certa estabilidade.

Mas a realidade no campo não parece seguir esse mesmo raciocínio. De acordo com o Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), os números da Conab estariam superestimados e não condizem com o que está sendo observado por produtores, agrônomos e corretores, principalmente em Minas Gerais, estado que lidera a produção nacional de feijão-carioca.

Enquanto a Conab mantém a estimativa de 108 mil hectares plantados no território mineiro — mesma área do ano passado —, o Ibrafe afirma que os dados reais indicam uma área plantada bem menor. A entidade também chama a atenção para o Paraná, que segundo o levantamento da estatal, apresenta redução de 27% na área plantada e uma queda de 22% na produção total de feijão-carioca.

Além da discrepância nos dados, outros fatores climáticos vêm influenciando diretamente a produtividade das lavouras. A incidência da mosca-branca e as temperaturas acima da média para a época têm afetado o desenvolvimento das plantas, o que deve resultar em menor rendimento por hectare nas colheitas deste ciclo 2024/2025. Isso tende a impactar ainda mais a segunda e terceira safras do ano, que já são tradicionalmente menos robustas em volume.

No caso do feijão-preto, o Cepea aponta que a oferta tem crescido mais rapidamente. A previsão é de um aumento de até 20% na produção anual, o que ajuda a explicar a acentuada queda nos preços dessa variedade. Com mais produto disponível e uma procura que não acompanha esse ritmo, o valor pago ao produtor acaba sendo pressionado para baixo.

Esse panorama de retração de preços, somado à lentidão nas negociações e incertezas sobre o volume real da produção, exige atenção não apenas dos produtores, mas também dos órgãos oficiais responsáveis pelos dados estatísticos da agricultura nacional. Estimativas desalinhadas com a realidade do campo podem afetar políticas públicas, planejamento logístico e decisões econômicas de toda a cadeia produtiva.

Por enquanto, o setor segue em compasso de espera, aguardando definições mais claras sobre o comportamento das próximas safras e torcendo por uma reação na demanda interna e na valorização dos preços. Enquanto isso, a ponta do consumo pode até comemorar a queda no valor do feijão nas prateleiras, mas do lado de quem planta, a preocupação só aumenta.

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