Mato Grosso do Sul, 20 de maio de 2025
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Rota Bioceânica impulsiona reestruturação hospitalar na fronteira de Mato Grosso do Sul

Crescimento populacional e integração internacional levam governo a redesenhar rede de saúde com foco regional, transporte aeromédico e pactos com o Paraguai
Segundo o Ministério da Infraestrutura, a previsão é que as obras principais da Rota Bioceânica sejam concluídas até 2028
Segundo o Ministério da Infraestrutura, a previsão é que as obras principais da Rota Bioceânica sejam concluídas até 2028

À medida que os primeiros reflexos da Rota Bioceânica começam a se desenhar nas estradas e nos centros urbanos do sul de Mato Grosso do Sul, uma transformação silenciosa, porém estratégica, toma corpo dentro da estrutura pública de saúde do Estado. O Governo Estadual, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (SES), iniciou um ousado plano de regionalização hospitalar, redesenhando o atendimento nas cidades de fronteira, prevendo o crescimento populacional, o aumento do fluxo de veículos e a futura integração com países vizinhos.

A nova rede hospitalar propõe uma reorganização hierárquica de serviços médicos: da atenção primária ao tratamento de alta complexidade, passando por estabilizações de urgência e cirurgias intermediárias. Cidades pequenas como Porto Murtinho assumirão papel de vigilância e atendimento básico; centros médios como Ponta Porã se tornarão núcleos cirúrgicos e clínicos regionais; e metrópoles como Campo Grande e Dourados seguirão como pontos de referência de alta complexidade.

A decisão de reestruturar a rede não é aleatória. O projeto da Rota Bioceânica, que conectará o Brasil ao Oceano Pacífico por meio de uma nova ponte internacional em Porto Murtinho, deverá transformar a logística da América do Sul e, como consequência direta, multiplicar os deslocamentos e intercâmbios humanos. Com mais gente em trânsito, mais riscos e demandas recaem sobre a rede de saúde pública.

A reestruturação foi apresentada oficialmente no Encontro Binacional Brasil–Paraguai, realizado em Ponta Porã, em abril. O evento contou com a presença de autoridades estaduais, representantes de cidades fronteiriças e técnicos de organismos internacionais.

Segundo o médico João Ricardo Tognini, da Assessoria Técnica Médica da SES, as mudanças visam garantir que nenhuma cidade fique desamparada diante do crescimento demográfico e da ampliação de riscos. “É uma mudança preventiva. Sabemos que haverá mais circulação de pessoas, mais acidentes, mais demandas clínicas e, sobretudo, mais necessidade de acesso rápido e regionalizado aos serviços médicos”, explica.

Cinturões de média complexidade e racionalização hospitalar

A grande inovação do modelo está na formação de “cinturões assistenciais”, áreas compostas por cidades que concentram a média complexidade e desafogam os grandes centros. Nessas cidades, procedimentos como ortopedia, ginecologia, urologia e cirurgias gerais ganharão mais espaço e prioridade, de forma a reduzir o envio de pacientes para Campo Grande, Dourados ou Três Lagoas.

Em Ponta Porã, por exemplo, o Hospital Regional possui 127 leitos e estrutura capaz de assumir um papel ainda mais relevante na rede. A SES estuda ampliar a oferta de especialidades e implementar tecnologias como videocirurgia, além de garantir maior eficiência no processo de regulação para impedir que casos leves tomem o lugar de urgências reais.

Porto Murtinho, epicentro simbólico da Rota Bioceânica, será contemplado com reforço na atenção primária e uso intensivo da regulação para transferência de casos para municípios vizinhos. “O foco será prevenir, estabilizar e encaminhar com eficiência”, resume Tognini.

Cidades de apoio e transporte aeromédico

Na retaguarda, cidades como Bela Vista, Jardim e Antônio João passarão a operar como suportes intermediários, incorporando estruturas hospitalares otimizadas, contratos regionais e formação de equipes especializadas. Este modelo visa construir uma rede descentralizada e cooperativa, com menos deslocamentos, mais resolutividade e maior agilidade.

Um dos eixos considerados cruciais para o êxito da regionalização é o transporte aeromédico. Dada a dimensão territorial do estado e a distância entre as cidades, o uso de aviões para remoção de pacientes graves torna-se vital. “O socorro aéreo é, em muitos casos, a única chance de vida para pacientes em áreas remotas”, afirma o secretário de Saúde, Maurício Simões Corrêa.

De acordo com o titular da pasta, a nova estruturação não se resume a construir hospitais, mas em garantir que cada elo da rede funcione em consonância com o seu porte, sua população e sua localização. “O grande erro seria implantar centros complexos onde não há recursos humanos nem capacidade de gestão. Nosso desafio é montar um sistema sólido, equilibrado e eficiente”, pondera.

Saúde transfronteiriça e cooperação internacional

A agenda da saúde vai além das fronteiras estaduais. No mesmo Encontro Binacional, Brasil e Paraguai firmaram um termo de cooperação para a construção de um mapeamento conjunto das estruturas hospitalares e capacidades assistenciais em cidades gêmeas, como Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, Mundo Novo e Salto del Guairá, Foz do Iguaçu e Ciudad del Este.

A secretária-adjunta da SES, Crhistinne Maymone, representou Mato Grosso do Sul no ato de assinatura e destacou a importância do levantamento detalhado de dados para orientar as decisões futuras. “Com esse mapeamento, poderemos cruzar informações e identificar carências reais, sejam elas de insumos, profissionais ou equipamentos. Só com dados precisos é possível investir com inteligência”, disse.

O levantamento binacional terá início nos próximos 30 dias e deverá servir como base para pactos de atendimento mútuo, uso compartilhado de estruturas hospitalares e estratégias de vigilância epidemiológica integrada.

Ao reformular sua rede de saúde com base em projeções concretas de crescimento e integração regional, Mato Grosso do Sul se antecipa aos desafios que a Rota Bioceânica trará nos próximos anos. Mais que uma via de escoamento comercial, o corredor intercontinental projeta uma nova dinâmica de vida na fronteira, exigindo não apenas asfalto e concreto, mas planejamento, tecnologia, cooperação e, sobretudo, humanidade.

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