Mato Grosso do Sul, 13 de junho de 2025
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Rússia alerta para crescente espionagem chinesa nos bastidores da aliança entre Moscou e Pequim

Rússia alerta para crescente espionagem chinesa nos bastidores da aliança entre Moscou e Pequim Documento secreto do FSB revela desconfiança estratégica diante da aproximação entre Putin e Xi Jinping
Putin e Xi se reúnem em Moscou 08/05/2025
Putin e Xi se reúnem em Moscou 08/05/2025

Apesar da parceria diplomática que aparenta ser sólida e promissora entre Rússia e China, os bastidores da inteligência russa revelam um cenário de desconfiança, vigilância e crescente preocupação. Um documento secreto do FSB, o Serviço Federal de Segurança da Rússia, obtido e analisado por especialistas ocidentais, aponta que, mesmo com os laços econômicos e militares fortalecidos entre Moscou e Pequim, agentes russos consideram a China uma ameaça ativa e contínua.

A unidade de contraespionagem do FSB, sediada na imponente e temida Lubyanka, em Moscou, trata os serviços secretos chineses como “o inimigo”, segundo o documento interno de oito páginas que detalha estratégias para conter a suposta infiltração de espiões e a extração de informações sensíveis. A revelação evidencia a dualidade da relação entre os dois países: uma aliança estratégica na superfície e uma guerra fria nos bastidores da inteligência.

O texto, não datado mas supostamente redigido no fim de 2023 ou início de 2024, foi obtido por um grupo de cibercrime denominado Ares Leaks. Posteriormente, foi submetido à análise de seis agências de inteligência ocidentais, que consideraram seu conteúdo autêntico. O material oferece um raro vislumbre da percepção russa sobre o avanço chinês em seus domínios mais sensíveis território, ciência e armamento.

Espionagem nas sombras de uma amizade declarada

Publicamente, o presidente Vladimir Putin e o líder chinês Xi Jinping consolidaram uma retórica de parceria “sem limites”, promovendo acordos bilionários e colaboração em projetos que vão desde a construção de uma base lunar conjunta até o desenvolvimento de infraestrutura energética no Ártico. A China tornou-se, desde a invasão russa à Ucrânia em 2022, o maior parceiro comercial de Moscou, fornecendo equipamentos eletrônicos, componentes militares e substituindo marcas ocidentais que abandonaram o mercado russo.

Contudo, o documento do FSB mostra que esse vínculo estratégico está longe de ser isento de tensões. Agentes chineses estariam tentando recrutar cientistas, jornalistas, empresários e até oficiais russos para obter informações privilegiadas sobre tecnologias de guerra, drones, softwares de inteligência e táticas militares usadas na Ucrânia. A espionagem estaria sendo conduzida por meio de universidades, centros de pesquisa e empresas privadas disfarçadas.

Segundo o memorando, o FSB criou o programa “Entente-4” três dias antes da invasão à Ucrânia. O codinome, em clara alusão irônica à entente diplomática entre Rússia e China, tem por objetivo principal monitorar e impedir que Pequim se aproveite da vulnerabilidade russa durante a guerra.

Tecnologia de guerra, território e poder global em jogo

O conteúdo do documento é vasto e meticuloso. Ele descreve, por exemplo, a intensificação do monitoramento do aplicativo chinês WeChat e o uso de ferramentas cibernéticas para rastrear comunicações de possíveis alvos de espionagem. Também revela ordens para alertar cientistas russos sobre as intenções chinesas de se apropriar de pesquisas estratégicas e controlar informações sigilosas.

Além da espionagem tecnológica, o documento revela temores históricos relacionados ao território. Com 2.615 milhas de fronteira compartilhada com a China, a Rússia teme uma guinada expansionista do governo chinês sobre regiões do Extremo Oriente russo, como Vladivostok — área que nacionalistas chineses consideram usurpada por tratados coloniais do século XIX. A inteligência russa relatou ações coordenadas de acadêmicos chineses para reforçar vínculos históricos com essas áreas, inclusive por meio de publicações cartográficas e pesquisa em arquivos russos.

Outra preocupação recai sobre a Ásia Central e o Ártico. O FSB aponta que a China desenvolveu estratégias para influenciar o Uzbequistão e outras ex-repúblicas soviéticas por meio de programas humanitários e intercâmbios acadêmicos. No Ártico, o foco seria estratégico e econômico: Pequim vê na Rota do Mar do Norte uma oportunidade de expansão comercial, aproveitando-se do derretimento das calotas polares e da necessidade russa de infraestrutura, agora agravada pelas sanções ocidentais.

Cautela estratégica diante da dependência chinesa

O documento reforça, por fim, a cautela que os agentes do FSB devem adotar ao lidar com os chineses. Apesar dos riscos, os oficiais são instruídos a não criar incidentes diplomáticos, evitando inclusive mencionar publicamente os serviços secretos chineses como inimigos. Qualquer ação mais contundente contra a espionagem chinesa só pode ser realizada com autorização das mais altas esferas da segurança nacional.

Essa diplomacia silenciosa revela o dilema central enfrentado por Moscou: conter a influência crescente da China sem comprometer uma parceria vital para sua sobrevivência econômica e política. Ainda que a Rússia desconfie da China, sabe que não pode prescindir dela.

A revelação do documento mostra que a geopolítica entre as duas nações é mais frágil e complexa do que se divulga. A aparência de unidade entre os governos de Putin e Xi Jinping esconde disputas profundas por informação, influência e soberania. No jogo silencioso dos espiões, nem mesmo os aliados mais próximos escapam do olhar atento da vigilância interna.

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