Mato Grosso do Sul, 15 de maio de 2025
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Safra recorde de laranja no Brasil impacta mercado e faz preço do suco despencar em 2025

Projeções de recuperação na colheita fizeram preços despencarem e mudaram o jogo no comércio global
A exportação de suco de laranja continua a ser uma das grandes fontes de receita do Brasil
A exportação de suco de laranja continua a ser uma das grandes fontes de receita do Brasil

A produção de laranja no Brasil em 2025 virou o grande protagonista do mercado global de suco. Maior exportador mundial da commodity, o país fez os preços do suco de laranja concentrado e congelado despencarem 50% este ano na Bolsa de Nova York. No início de janeiro, os contratos da bebida atingiram US$ 5,1465 por libra-peso, mas caíram para US$ 2,6210 em março, chegando ao menor nível de US$ 2,4290 no dia 18. Em um período de 12 meses, a queda acumulada é de 28,7%, segundo levantamento do Valor Data.

A principal razão para essa derrocada foi a expectativa de uma recuperação significativa da safra brasileira em 2025/26. No último ciclo, a produção foi prejudicada pela seca, totalizando 228,52 milhões de caixas de laranja. Agora, estima-se que o Brasil possa produzir algo entre 260 milhões e 300 milhões de caixas, segundo Andrés Padilha, analista sênior do Rabobank Brasil. Em fevereiro, o adido do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em Brasília previu uma produção ainda maior, de 320 milhões de caixas, o que reforçou a tendência de queda nos preços.

A estimativa do USDA é considerada otimista, mas dentro do possível. Padilha destaca que, com a valorização anterior do suco, os produtores brasileiros investiram mais nos pomares, o que pode resultar em maior produtividade. No entanto, desafios como a área cultivada estagnada e o avanço da doença greening podem limitar esse crescimento. “As chuvas melhoraram recentemente e temos um cenário climático mais favorável, mas ainda há dúvidas se realmente chegaremos a 320 milhões de caixas”, pondera o especialista.

O impacto das projeções sobre a oferta da fruta já vem sendo sentido na Bolsa de Nova York. As oscilações nos preços devem continuar até que as previsões oficiais sejam divulgadas. A primeira estimativa do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) para a safra 2025/26 será divulgada em maio. Caso o número fique próximo de 260 milhões de caixas, o mercado pode reagir com alta nos preços. Já uma projeção acima de 300 milhões pode derrubar ainda mais as cotações, ampliando as perdas para investidores e produtores.

Mesmo com a baixa nas cotações, o consumo de suco de laranja no mercado internacional não dá sinais de recuperação imediata. A CitrusBr, entidade que representa os maiores exportadores brasileiros, reconhece que o impacto da queda dos preços no bolso do consumidor demora a aparecer. “Os grandes compradores, como indústrias e redes de supermercados, costumam travar os preços com antecedência, protegendo-se das oscilações. Assim como não houve repasse imediato quando os preços subiram, a queda também levará tempo para se refletir nas gôndolas”, explica Padilha.

Além da questão dos preços, a qualidade do suco brasileiro também esteve em debate. Uma reportagem do Financial Times apontou que consumidores nos Estados Unidos e na Europa reduziram o consumo não apenas pelo custo, mas também pelo sabor mais amargo do suco produzido recentemente. Árvores afetadas por doenças produziram frutas de qualidade inferior, e a escassez fez com que as indústrias flexibilizassem seus padrões de qualidade no blend final do produto.

Ibiapaba Netto, diretor-presidente da CitrusBr, explica que a colheita da laranja ocorre em diferentes estágios, dividida entre frutos precoces, de meia-estação e tardios. As laranjas precoces, que chegam primeiro às fábricas, têm maior acidez, o que pode afetar o sabor do suco. Em anos normais, as empresas utilizam estoques da safra anterior para equilibrar essa característica, mas em 2024/25 não havia estoques disponíveis. “Avisamos nossos clientes de que a qualidade poderia ser mais heterogênea no início da safra, pois estávamos sem estoques para corrigir a acidez”, afirma Netto.

O consumo de suco de laranja reconstituído nos Estados Unidos, feito a partir do suco concentrado congelado, caiu 24,5% na primeira semana de novembro de 2024, em relação ao mês anterior, segundo dados da Nielsen. Já o consumo de suco fresco recuou 0,9% no mesmo período.

Diante desse cenário, Netto acredita que a combinação de preços mais baixos e a volta da qualidade do suco podem estimular a retomada do consumo, mas ele adverte que isso ainda não passa de uma expectativa. “O consumidor sempre busca um equilíbrio entre preço e qualidade. Se conseguirmos garantir um produto mais homogêneo e ao mesmo tempo acessível, podemos ver uma reação na demanda”, analisa.

Para o mercado, a grande questão agora é entender até que ponto a produção brasileira realmente atingirá os patamares esperados e qual será o impacto disso sobre os preços e o consumo global. Se as previsões otimistas se confirmarem, o cenário para os próximos meses pode ser de preços ainda mais baixos e um grande desafio para os produtores brasileiros.

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