A morte de Sebastião Salgado, ocorrida na manhã desta sexta-feira, 23 de maio, provocou uma comoção nacional e internacional, encerrando uma trajetória ímpar no fotojornalismo mundial. Considerado um dos maiores fotógrafos de todos os tempos, Salgado deixa um legado monumental, marcado por imagens que capturaram com intensidade as desigualdades sociais, as tragédias humanas e as belezas escondidas do planeta.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, visivelmente emocionado, prestou homenagem ao artista durante cerimônia oficial no Palácio do Planalto, onde participava, ao lado do presidente de Angola, João Lourenço, da assinatura de atos de cooperação entre os dois países. Lula pediu um minuto de silêncio em memória de Sebastião Salgado, a quem classificou como “um dos maiores fotógrafos do mundo, se não o maior”.
Durante a solenidade, o presidente revelou que o presente escolhido para ser entregue ao líder angolano era justamente uma fotografia de Sebastião Salgado, como símbolo da ligação profunda entre o Brasil, a África e a obra do artista. Não por acaso, a realidade do continente africano foi uma das fontes mais poderosas de inspiração para Salgado, que ao longo da carreira dedicou-se a retratar as desigualdades, as injustiças e os dramas humanitários com um olhar sensível e comprometido.
Em nota oficial, Lula destacou a dimensão ética e estética da obra de Salgado, sublinhando que o fotógrafo não se limitava a usar apenas os olhos e a câmera, mas também a alma e o coração ao captar as imagens que o tornaram célebre. “Me sinto profundamente triste com o falecimento de Sebastião Salgado. Seu inconformismo com o fato de o mundo ser tão desigual e seu talento obstinado em retratar a realidade dos oprimidos serviu, sempre, como um alerta para a consciência de toda a humanidade. Salgado não usava apenas seus olhos e sua máquina para retratar as pessoas: usava também a plenitude de sua alma e de seu coração. Por isso mesmo, sua obra continuará sendo um clamor pela solidariedade e o lembrete de que somos todos iguais em nossa diversidade”, escreveu o presidente.

Foto: Instituto Terra
Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu em 8 de fevereiro de 1944, em Aimorés, interior de Minas Gerais. Formado em economia pela Universidade Federal do Espírito Santo e com pós-graduação na área, Salgado iniciou a carreira profissional longe da fotografia, trabalhando como economista para a Organização Internacional do Café. Foi somente na década de 1970, após migrar para Paris com a esposa, a arquiteta e também fotógrafa Lélia Wanick Salgado, que começou a se dedicar integralmente à fotografia.
O fotógrafo mineiro rapidamente se destacou por seu estilo humanista e documental. Em seus primeiros trabalhos, já era possível perceber uma estética própria, marcada pela preferência pelo preto e branco, pela composição precisa e pela busca de narrativas que desnudassem a condição humana em seus aspectos mais pungentes. Salgado trabalhou para algumas das mais prestigiadas agências fotográficas do mundo, como Sygma, Gamma, Magnum Photos e, posteriormente, fundou a Amazonas Images, ao lado de Lélia.
Entre suas obras mais importantes estão os projetos fotográficos de longa duração que se transformaram em livros e exposições mundialmente aclamados. “Outras Américas” (1986) registrou as populações camponesas da América Latina, enquanto “Trabalhadores” (1993) documentou as condições de trabalho em diversas partes do mundo, com imagens icônicas como as dos garimpeiros de Serra Pelada, no Pará. “Êxodos” (2000) revelou o drama dos refugiados e migrantes, e “Gênesis” (2013) apresentou um registro visual exuberante das paisagens intocadas e das culturas tradicionais ainda preservadas.
Em todas essas séries, Salgado demonstrou uma rara combinação de rigor técnico, sensibilidade artística e compromisso social. Sua fotografia não era meramente contemplativa, mas uma ferramenta de denúncia e transformação. Ao longo da vida, recebeu inúmeros prêmios e condecorações, como o Prêmio Príncipe das Astúrias de Artes, o World Press Photo e foi nomeado embaixador da Boa Vontade da UNICEF.
Nos últimos anos, Sebastião Salgado dedicou-se também à preservação ambiental. Em parceria com Lélia, criou o Instituto Terra, que promoveu a recuperação de áreas degradadas da Mata Atlântica na região de Aimorés, sua terra natal. Esse projeto ambiental tornou-se uma referência internacional em reflorestamento e desenvolvimento sustentável.
A trajetória de Sebastião Salgado foi ainda registrada no documentário “O sal da terra” (2014), dirigido pelo cineasta alemão Wim Wenders e por seu filho, Juliano Ribeiro Salgado. O filme foi indicado ao Oscar e consagrou ainda mais a figura do fotógrafo como um dos maiores artistas do século XX e XXI.
A despedida de Sebastião Salgado representa não apenas a perda de um gênio da fotografia, mas o encerramento de uma trajetória de vida profundamente comprometida com os direitos humanos, a justiça social e a preservação ambiental. Seu legado permanece vivo em cada uma de suas imagens, que continuarão a inspirar gerações e a provocar reflexões sobre o mundo em que vivemos.
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