Mato Grosso do Sul, 8 de julho de 2025
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Sons da Amazônia ganham voz em série de podcast contemplada pela Funarte

Projeto de Zek Picoteiro valoriza ritmos ribeirinhos e quilombolas e destaca a música como elo de identidade cultural e resistência nos rios da floresta
Imagens - Denise Gerassi
Imagens - Denise Gerassi

Entre águas turvas e sons que ecoam pelas margens dos rios amazônicos, nasce uma experiência sonora e documental que propõe uma travessia cultural pela diversidade musical da região Norte do Brasil. A bordo de embarcações e guiado pelo som das comunidades tradicionais, o DJ, pesquisador e produtor cultural Zek Picoteiro lançou a série de podcast Afluentes, um projeto contemplado pelo Programa Funarte Retomada 2023, com apoio do Ministério da Cultura, que se debruça sobre os fluxos sonoros dos povos ribeirinhos e quilombolas da Amazônia.

A proposta vai além da audição. É uma imersão no modo como a música surge, se molda, circula e persiste no coração da floresta. A primeira temporada do podcast reúne seis episódios, dos quais dois já foram disponibilizados nas plataformas digitais. Os programas são dedicados a expressões como Beiradão, Tecnobrega, Carimbó, Boi Bumbá, Lambada e Marabaixo, destacando o papel central dos rios como condutores de cultura e identidade.

“Foi navegando e ouvindo que entendi a potência da música como elo entre os povos das águas. O rio conecta tudo. É estrada, é palco, é matriz. Ele leva os sons, os artistas e os saberes. A música na Amazônia pulsa com o ritmo da correnteza”, explica Zek Picoteiro.

Um mapa vivo de sons e histórias

O projeto Afluentes desdobrou-se também em um portal interativo, onde o visitante encontra um mapa da bacia amazônica repleto de informações sobre artistas, tradições, playlists, relatos de viagem e artigos. Tudo produzido com base na escuta ativa e na oralidade, princípios que norteiam o podcast desde sua concepção.

O DJ e pesquisador percorreu os rios Amazonas, Tapajós, Guamá e Jari, mergulhando em realidades diversas que moldam os sons que embalam a rotina, os rituais e as celebrações de comunidades historicamente invisibilizadas. Um dos focos do trabalho é valorizar a musicalidade de origem quilombola e ribeirinha, evidenciando a força ancestral e a atualidade desses repertórios.

Ritmos com raízes profundas

No episódio inaugural, Zek apresenta o Beiradão, um gênero que nasceu às margens do Rio Amazonas e carrega a sonoridade característica do saxofone, um instrumento central nas festas populares da região. A edição revela ainda a relação desse estilo musical com o ciclo da borracha e os fluxos migratórios, desenhando um retrato da Amazônia dos anos 1940 e 1950.

O segundo episódio é dedicado ao Tecnobrega, ritmo eletrônico surgido nas periferias de Belém e que ganhou os rios e palcos da Amazônia com suas potentes aparelhagens. O programa analisa a forma como o Brega se tornou um fenômeno cultural, conectando juventudes urbanas e rurais através de festas fluviais e bailes ribeirinhos.

“O Tecnobrega é um exemplo claro de como a Amazônia cria e exporta cultura. Ele nasce do improviso e da criatividade de jovens que, com poucos recursos, fizeram revolução estética e sonora”, comenta Zek.

O território como fonte e trilha sonora

Mais do que uma viagem musical, Afluentes é também um estudo sobre a relação entre o ambiente amazônico e a criação artística. Zek destaca como as particularidades climáticas e logísticas da região influenciam diretamente a produção e circulação musical. Em muitos casos, as turnês e eventos culturais exigem o transporte de toneladas de equipamentos em balsas por semanas.

“A música é consumida em alto-falantes improvisados, durante horas de navegação, e também nas festas comunitárias. Ela é paisagem sonora e parte da memória afetiva de quem vive à beira do rio”, observa o artista.

Tecnologia a serviço da tradição

Ao propor o podcast como meio de difusão cultural, Zek defende o uso de plataformas digitais para dar visibilidade às narrativas locais. “Esse formato é uma ferramenta democrática. Ele permite que vozes antes silenciadas ganhem o mundo. A Amazônia precisa contar suas próprias histórias, com seus sotaques, ritmos e verdades”, afirma.

Além da valorização dos gêneros populares, o projeto combate o preconceito que ainda cerca estilos como o Tecnobrega, e dá espaço à manifestação afro-amapaense do Marabaixo, destacando-a como uma expressão profunda da identidade preta amazônica.

Investimento público como ponte para o futuro

Contemplado pelo Programa Funarte Retomada 2023 – Música, Afluentes recebeu recursos fundamentais para viabilizar expedições fluviais que, segundo Zek, seriam financeiramente inviáveis de forma independente. O projeto foi viabilizado pelo Instituto Regatão Amazônia, com apoio do Ministério da Cultura.

“Esse edital permitiu que eu realizasse um sonho e, ao mesmo tempo, criasse um legado cultural. Ele é prova de que políticas públicas bem direcionadas podem mudar a realidade da produção artística no Brasil, especialmente em regiões como a nossa”, pontua.

Maria Marighella, presidenta da Funarte, destacou a relevância da diversidade musical nacional. “A música é a linguagem mais popular das artes brasileiras. Quando investimos em projetos como Afluentes, promovemos o direito à cultura e fortalecemos o pacto federativo das artes, ampliando o acesso da população aos seus próprios bens simbólicos.”

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