A cena parece inusitada, mas é real e preocupante. A Prefeitura de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, foi oficialmente incluída em uma lista pública de devedores, ao lado de pessoas físicas, empresas e instituições bancárias. O nome do próprio município apareceu como um dos 103 contribuintes intimados pela Secretaria Municipal da Fazenda a regularizarem pendências com o Fisco. O fato ocorreu em edital publicado no Diário Oficial desta terça-feira (24), e escancarou o que muitos já vinham alertando: a administração da prefeita Adriane Lopes falha não apenas na cobrança, mas na própria responsabilidade fiscal.
A notificação ao “Município de Campo Grande” está identificada no processo de número 21633/2025-83 e inclui uma inscrição ativa, referente a débitos de Imposto Sobre Serviços (ISS) e taxas de construção civil — tributos cuja arrecadação deveria ser zelada com rigor pela própria gestão que agora figura como inadimplente. A revelação chocou tanto pela ironia quanto pela gravidade. Afinal, como exigir do cidadão comum o cumprimento de suas obrigações tributárias se o próprio poder público ignora as suas?
Esse episódio se agrava diante do contexto recente. Em menos de uma semana, a mesma prefeitura promoveu uma gigantesca ofensiva fiscal, publicando mais de 58,9 mil nomes em quase 800 páginas de “devedores”. A ação incluiu desde grandes empresários até cidadãos que devem centavos ou poucos reais. Exemplo disso é uma mulher chamada Marinalva e um homem chamado Everton, citados por uma dívida de apenas R$ 4,09. Centenas de outras pessoas foram igualmente expostas por valores irrisórios, em uma medida que mais se assemelha a uma tática vexatória do que a uma política séria de arrecadação.
Ao passo em que o Executivo municipal divulga dívidas de pequeno porte para constranger contribuintes comuns, ele mesmo falha ao se manter regular perante sua própria estrutura tributária. É um sinal claro de desorganização administrativa e, sobretudo, de incoerência institucional. A prefeita Adriane Lopes, como principal gestora do município, responde diretamente por esse escândalo, que compromete a imagem da administração pública e levanta dúvidas sobre a integridade das ações adotadas.
A contradição é tamanha que, ao lado de contribuintes comuns, aparecem também empresas de grande porte e instituições financeiras, como a Bear Construções com dívida declarada de mais de R$ 154 mil e órgãos públicos de várias esferas, como a própria Caixa Econômica Federal e o Governo do Estado. Isso sem mencionar figuras conhecidas da política regional, como o ex-prefeito Alcides Bernal, que já figurou na lista por valores superiores a R$ 78 mil, e a ex-vereadora Magali Picarelli.
A situação sugere um modelo de fiscalização seletiva e um critério desigual de cobrança. Enquanto os pequenos são expostos por dívidas ínfimas, o próprio Executivo, comandado por Adriane Lopes, carece de estrutura para manter sua conformidade tributária. Em vez de liderar pelo exemplo, a Prefeitura mancha sua autoridade fiscal e desmoraliza o sistema de arrecadação local.
A inclusão do município entre os inadimplentes não é apenas um erro administrativo. É o retrato de uma prefeitura que não se reconhece como parte do problema e insiste em transferir responsabilidades à população. A justificativa da Secretaria da Fazenda de que se trata de um procedimento padrão não ameniza o constrangimento. Pelo contrário, escancara a falta de controle interno, a desatenção às obrigações públicas e o despreparo da gestão municipal em temas tão sensíveis quanto a arrecadação.
Adriane Lopes, que desde o início de seu mandato tenta projetar uma imagem de gestora moderna e comprometida com o equilíbrio das contas, agora se vê envolta em uma crise de credibilidade. Sua responsabilidade não é apenas técnica, mas ética. Como permitir que cidadãos sejam cobrados publicamente por dívidas de centavos, ao passo que o próprio município se permite acumular débitos e, pior, se autointimar sem ao menos explicar como isso ocorreu?
O caso se torna ainda mais grave ao se observar o histórico recente de cobranças da Prefeitura. Editais anteriores já haviam listado como devedores nomes de forte impacto local, como a Agência Municipal de Habitação, a Bunge Alimentos, o Banco do Brasil, a União Federal, entre outros. A recorrência desses episódios indica que o problema é estrutural e não episódico, apontando para uma falência nos mecanismos internos de arrecadação e controle fiscal.

Para o contribuinte, fica a sensação de injustiça. Ao mesmo tempo em que enfrenta dificuldades econômicas e pressões fiscais, vê o poder público falhar em seu papel mais básico: dar o exemplo. A confiança nas instituições se fragiliza quando os responsáveis por fiscalizar se mostram também os primeiros a descumprir a lei.
A administração municipal precisa vir a público esclarecer esse episódio, apresentar um plano de regularização e, sobretudo, rever sua política de cobrança, que até agora parece mais voltada à intimidação do pequeno contribuinte do que à justiça fiscal. Adriane Lopes deve, acima de tudo, assumir sua responsabilidade, reavaliar a gestão da Fazenda e promover uma reformulação profunda na maneira como a Prefeitura lida com sua contabilidade pública.
O episódio entra para a história recente de Campo Grande como um símbolo da inversão de papéis entre o Estado e o cidadão. Enquanto a população tenta sobreviver em meio a impostos e taxas, é o próprio poder público que, silenciosamente, se transforma em devedor.
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