Mato Grosso do Sul, 10 de julho de 2025
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Tragédia em Dourados: assassinato entre vizinhos expõe histórico de violência e fuga misteriosa de pecuarista condenado por escravidão

Disputa entre fazendeiros em distrito rural de Dourados termina em homicídio brutal; autor do crime é um empresário já condenado por manter trabalhador em condições análogas à escravidão
O pecuarista rural Volnei Kommers Beutinger, morto a tiros pelo vizinho, em Dourados (Foto: Reprodução)
O pecuarista rural Volnei Kommers Beutinger, morto a tiros pelo vizinho, em Dourados (Foto: Reprodução)

O início da manhã desta quinta-feira, 10 de julho, foi marcado por uma tragédia de contornos sombrios no distrito de Itahum, zona rural de Dourados, Mato Grosso do Sul. Um desentendimento aparentemente banal entre dois vizinhos pecuaristas terminou em um crime de sangue que chocou a comunidade local e reacendeu antigos fantasmas de violência, abuso de poder e impunidade.

O pecuarista e empresário Paulo Afonso de Lima Lange, de 66 anos, é apontado como o autor do assassinato do médico veterinário e também fazendeiro Volnei Kommers Beutinger, de 52 anos. O crime ocorreu na propriedade de Paulo Lange, localizada às margens da rodovia MS-468, cerca de 70 quilômetros do centro urbano de Dourados. O cenário do homicídio é marcado pela vastidão de campos e estradas de terra, rota frequente de boiadas, máquinas agrícolas e, agora, de uma investigação policial em curso.

Segundo informações preliminares levantadas pelas autoridades, a vítima teria se dirigido até a fazenda do vizinho para buscar um boi que havia escapado de seu pasto e invadido a área de Paulo Lange. O incidente, que poderia ter sido resolvido de forma pacífica, rapidamente evoluiu para uma discussão acalorada. Volnei teria discutido primeiro com o filho de Paulo, e a confusão culminou em uma luta corporal. Foi neste momento que Paulo, de posse de uma arma de fogo, disparou vários tiros contra o veterinário. Um dos disparos atingiu fatalmente o lado esquerdo do peito da vítima, que caiu sem vida no local.

O que se seguiu torna o caso ainda mais perturbador. De acordo com testemunhas ouvidas pela polícia, o fazendeiro teria tentado forçar o funcionário que acompanhava Volnei a remover o corpo da cena do crime. Diante da recusa, o próprio Paulo Lange teria arrastado o cadáver até sua caminhonete e o transportado até a residência da vítima, em uma tentativa grotesca de transferir o corpo do local do crime. Após essa ação, ele fugiu do local e, até o momento, permanece foragido. A propriedade onde ocorreu o assassinato está situada a menos de 60 quilômetros da fronteira com o Paraguai, o que levanta a hipótese de uma possível fuga internacional.

Paulo Lange não é um estranho para as autoridades. Em abril de 2013, uma fiscalização conjunta realizada pelo Ministério Público do Trabalho, Polícia Federal e o então Ministério do Trabalho e Emprego flagrou um trabalhador vivendo em condições degradantes e análogas à escravidão na fazenda de sua propriedade. O empregado, com 49 anos à época, relatou que trabalhava todos os dias das cinco da manhã às nove da noite, sem descanso semanal, salário regular, equipamentos de proteção ou acesso a alimentação adequada. A moradia do trabalhador era uma casa de madeira precária, sem água potável, sem banheiro e sem qualquer estrutura digna. O açude que abastecia os animais também era utilizado para banho, consumo e preparo dos alimentos.

Esses relatos, que à época já haviam causado comoção, culminaram quase uma década depois em uma sentença judicial. Em outubro de 2022, Paulo Lange foi condenado a quatro anos e quatro meses de reclusão em regime semiaberto pelo crime de submeter alguém à condição análoga à de escravo. O histórico de abuso, negligência e desrespeito à dignidade humana atribuído ao fazendeiro volta agora à tona, envolto em uma narrativa de sangue, fuga e brutalidade.

O assassinato de Volnei Kommers Beutinger, médico veterinário respeitado na região e conhecido por sua atuação junto a produtores locais, deixou familiares, amigos e colegas estarrecidos. Profissional experiente, Volnei era reconhecido por sua ética e dedicação à agropecuária. Sua morte brutal e a maneira desumana com que foi tratado após ser alvejado lançam nova luz sobre um ambiente marcado por disputas de terra, relações de poder desiguais e violência muitas vezes naturalizada no campo.

As autoridades policiais de Dourados e do estado de Mato Grosso do Sul intensificaram as buscas pelo autor do crime, cuja condição de empresário influente e pecuarista de longa trajetória não impediu o desenrolar de mais um capítulo trágico de sua história. As investigações prosseguem e a Polícia Civil já solicitou apoio a órgãos federais de fronteira para evitar uma possível fuga internacional.

Enquanto isso, o caso reabre um debate fundamental sobre as estruturas sociais e jurídicas que regem as relações no campo brasileiro. O poder econômico, quando não freado por limites legais e éticos, pode abrir espaço para práticas autoritárias, abusos de poder e, como neste caso, até o uso da força letal em desentendimentos corriqueiros. A morte de Volnei Beutinger passa a ser não apenas mais um homicídio rural, mas um símbolo do quanto ainda se precisa avançar na pacificação, fiscalização e promoção de justiça nas zonas agrícolas do país.

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