Mato Grosso do Sul, 15 de maio de 2025
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Tragédia em Itaquiraí escancara a dor do feminicídio e revela drama familiar marcado por abusos e violência

Com sete casos confirmados em 2025, estado vive onda alarmante de violência contra mulheres; assassinato em Itaquiraí expõe drama familiar e falhas na prevenção

Na manhã de quarta-feira, 14 de maio de 2025, o silêncio de um bairro residencial em Itaquiraí, cidade a 405 quilômetros de Campo Grande, foi brutalmente interrompido por tiros e gritos de desespero. Simone da Silva, de 35 anos, foi assassinada dentro de sua própria casa, diante dos filhos. O crime, classificado como feminicídio majorado, traz à tona não apenas a dor da perda, mas um enredo sombrio de violência doméstica, desestruturação familiar e desamparo.

O autor dos disparos, William Megaioli Ebbing, de 22 anos, apresentou-se à polícia horas após o crime, acompanhado de sua advogada. Com ele, estava a arma usada no homicídio: um revólver calibre .38, com duas munições deflagradas. A tragédia familiar expõe um histórico de abusos, tensões e ameaças envolvendo o pai do autor, companheiro de Simone, e a própria mãe do acusado, que relatou anos de agressões físicas e psicológicas sofridas dentro de casa.

De acordo com o boletim de ocorrência, o feminicídio foi presenciado pelo filho mais velho de Simone, um adolescente de 14 anos. Em meio ao choque e desespero, o jovem usou o celular da mãe para avisar uma tia sobre o ocorrido. A Polícia Militar foi acionada e encontrou a vítima já sem vida. A perícia esteve no local e o corpo foi removido por uma funerária local.

O velório de Simone ocorreu ainda na noite de quarta-feira, na Capela Pax Primavera, com sepultamento no dia seguinte, no Cemitério Municipal de Itaquiraí. Familiares e amigos compareceram em silêncio, abalados com a violência que destruiu a vida de uma mulher e impactou para sempre a de seus filhos.

Simone tornou-se a décima mulher vítima de feminicídio em Mato Grosso do Sul apenas em 2025. Sua morte, no entanto, não foi um ato isolado, mas o desfecho trágico de um ciclo de conflitos e tensões que já se desenhavam há anos. Conforme relatado pela mãe de William, o relacionamento entre seu marido e Simone teve início cerca de dois anos atrás, mesmo sem uma separação oficial entre ela e o companheiro.

A mulher afirma que, desde então, a convivência tornou-se insustentável. Segundo seus relatos, ela e o filho eram constantemente agredidos e humilhados. “Ele batia no meu filho, humilhava com palavras, dizia coisas horríveis. Isso vinha acontecendo há muito tempo. Meu filho não aguentou mais”, declarou, pedindo anonimato. Ela ainda contou que o companheiro pretendia colocá-la para fora do comércio da família para substituí-la por Simone, o que intensificou o ambiente de tensão e revolta.

Na véspera do crime, o pai de William teria chegado em casa embriagado, portando a arma utilizada no assassinato. Chegou a disparar para o alto. Temendo pela segurança da família, William escondeu a arma enquanto o pai dormia. “Ele me disse: ‘Vou esconder, senão o pai mata a gente’”, relatou a mãe.

Na manhã seguinte, após nova discussão entre o pai e o filho, o jovem tomou uma decisão fatal. “Ele falou: ‘É por causa daquela mulher que você está fazendo isso tudo. Eu vou matar ela.’ Eu tentei impedir, mas ele saiu e fez o que fez”, contou a mãe, profundamente abalada.

O crime foi consumado na residência de Simone, onde William entrou armado e atirou contra a madrasta. Depois da execução, fugiu do local, mas apresentou-se na 1ª Delegacia de Polícia de Naviraí, onde entregou a arma e teve sua prisão formalizada. Ele foi autuado por feminicídio com agravante e porte ilegal de arma de fogo.

O pai de William também foi detido, acusado de agressões e ameaças contra a esposa, que solicitou uma medida protetiva. O caso lança luz sobre o impacto da violência doméstica nos filhos e o ambiente de medo constante que pode levar a atos extremos. William, segundo a mãe, agiu impulsionado por anos de sofrimento e desestrutura emocional provocada pelo próprio pai.

Com o assassinato de Simone, Mato Grosso do Sul atinge uma marca alarmante de feminicídios em 2025. A vítima anterior, Thácia Paula Ramos, foi morta quatro dias antes. As estatísticas não se resumem a números. São mães, filhas, profissionais, mulheres com histórias, que encontraram a morte onde deveriam ter segurança: dentro de casa.

A lista de feminicídios no estado este ano é um retrato fiel da tragédia cotidiana que se repete. Em Caarapó, Campo Grande, Dourados, Água Clara, Juti e outras cidades, mulheres foram brutalmente assassinadas por parceiros, ex-companheiros ou pessoas do convívio familiar. Muitas delas haviam denunciado ameaças ou conviviam sob constante violência, sem proteção efetiva.

Diante do aumento desses crimes, autoridades estaduais discutem a criação de um protocolo de emergência, que prevê integração entre as polícias, o Ministério Público, o Poder Judiciário e a rede de proteção à mulher. Coletivos feministas e organizações civis têm intensificado suas ações por mais casas de abrigo, fiscalização dos agressores e campanhas educativas.

A história de Simone da Silva, como tantas outras, é um grito por justiça e por medidas concretas. Enquanto isso não acontece, mulheres continuam morrendo. E crianças, como os filhos de Simone, crescem com marcas profundas de um trauma que poderia e deveria ter sido evitado.

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