A madrugada do feriado de 4 de julho de 2025 amanheceu com um cenário de desespero no coração do Texas. Chuvas torrenciais transformaram o pacífico Rio Guadalupe em uma força destrutiva, provocando uma enchente repentina que ceifou a vida de pelo menos 24 pessoas e deixou outras dezenas desaparecidas. Entre elas, 23 meninas que participavam de um acampamento de verão cristão nas margens do rio, no Condado de Kerr, a cerca de 105 quilômetros de San Antonio.
A força das águas surpreendeu a população e as autoridades, que sequer tiveram tempo de emitir alertas de evacuação. Em questão de minutos, o nível do rio subiu 8 metros, invadindo residências, arrastando veículos e submergindo locais de festividade. O Camp Mystic, tradicional espaço de encontros religiosos e recreativos, foi varrido pelas águas enquanto as crianças dormiam em cabanas próximas à margem.
O governador do Texas, Greg Abbott, decretou estado de desastre e garantiu recursos “ilimitados” para as operações de busca e resgate. Ao lado do vice-governador Dan Patrick, que liderou parte das ações emergenciais, o governador também contou com o respaldo do presidente Donald Trump, que prometeu assistência federal em todas as frentes. “Nós cuidaremos deles”, declarou o presidente em coletiva a bordo do Air Force One, após ser informado da gravidade da situação.
Aviso que chegou tarde demais
O Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos havia alertado, na quinta-feira (3), sobre a possibilidade de chuvas severas e inundações na região central e oeste do Texas, mas o volume das precipitações ultrapassou todas as expectativas. Segundo Dalton Rice, administrador municipal de Kerrville, a enxurrada começou de forma súbita, ainda durante a madrugada, impossibilitando ações prévias de contenção. “A enchente se formou em menos de duas horas. Não houve tempo nem para soar sirenes ou ordenar evacuação”, lamentou Rice.
As previsões subestimaram a intensidade da tormenta, e o colapso aconteceu exatamente no feriado mais simbólico para os americanos, o Dia da Independência. Em Kerrville e diversas outras comunidades atingidas, os shows de fogos e eventos comemorativos foram cancelados. A tradicional celebração à beira-rio foi interrompida com o palco coberto pelas águas do Guadalupe.
O drama das vítimas e a urgência das buscas
Até a noite de sexta-feira, ao menos 237 pessoas haviam sido resgatadas ou evacuadas pelas forças estaduais e federais. Destas, 167 foram retiradas com o auxílio de helicópteros. A operação envolveu também embarcações, drones de busca e mergulhadores especializados.
O xerife do Condado de Kerr, Larry Leitha, confirmou 24 mortes, número que pode aumentar nas próximas horas. Uma vítima foi localizada no vizinho Condado de Kendall, embora ainda não tenha sido confirmado se o óbito decorre da enchente.
No centro das atenções está o grupo de 23 meninas desaparecidas, cujo paradeiro permanece incerto. Familiares, líderes religiosos e voluntários acompanham de perto as buscas no perímetro do Camp Mystic. A tensão é permanente, e a esperança, embora cada vez mais frágil, ainda guia os esforços dos socorristas.
Previsão de mais chuvas e ampliação da emergência
O vice-governador Dan Patrick alertou que o perigo ainda não passou. A previsão para as próximas 24 a 48 horas indica mais chuva entre San Antonio e Waco. Novas enchentes não estão descartadas, e o aparato de emergência permanece de prontidão. Além da Guarda Nacional, reforços da Guarda Costeira dos Estados Unidos e da Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA) foram mobilizados.
Diante da escala da tragédia, o episódio já é considerado um dos mais impactantes desastres naturais ocorridos no Texas nos últimos anos, reacendendo discussões sobre preparação para eventos climáticos extremos, segurança em acampamentos infantis e as falhas nos sistemas de alerta e resposta rápida.
Dor, solidariedade e reconstrução
Em meio ao luto e à aflição, a solidariedade se tornou o elo entre comunidades vizinhas, igrejas e voluntários. Abrigos foram montados em escolas e ginásios, oferecendo acolhimento às famílias desabrigadas. Psicólogos e assistentes sociais também foram enviados à região para lidar com o trauma dos sobreviventes e parentes das vítimas.
Enquanto a água lentamente recua e revela os danos, a mobilização em torno das buscas pelas meninas desaparecidas continua. A cada minuto, cresce o apelo por respostas e a esperança de que, mesmo contra todas as probabilidades, algumas vidas ainda possam ser salvas entre os escombros de madeira, lama e lembranças soterradas pelo Rio Guadalupe.
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