Em uma sequência marcada por tensões emocionais e reviravoltas sentimentais, Vale Tudo retoma um dos núcleos mais intensos de sua narrativa com o envolvimento amoroso entre Ivan, interpretado por Renato Góes, e Heleninha, vivida por Paolla Oliveira. O reencontro dos dois culmina na primeira noite de amor entre o ex-funcionário da TCA e a pintora atormentada, mas a promessa de um novo começo logo se desfaz em meio a ressentimentos e confrontos dolorosos.
A trama ganha contornos dramáticos após o rompimento de Ivan com Raquel (Taís Araujo). Livre para seguir seu coração, o protagonista se aproxima de Heleninha, cuja fragilidade emocional e histórico de superação do alcoolismo a tornam uma figura ambígua e complexa. Após uma sequência de encontros e conversas marcadas por cumplicidade e desejo, os dois se entregam à paixão. No entanto, o que poderia se firmar como um novo capítulo para ambos acaba dando lugar a uma dura discussão.
O ponto de ruptura acontece quando Ivan descobre, por meio de Poliana (Matheus Nachtergaele), que Heleninha procurou Raquel para falar sobre o relacionamento entre eles. A atitude da loira, motivada por insegurança ou necessidade de afirmação, é recebida como uma afronta por Ivan, que confronta Heleninha com palavras duras e desiludidas.
“Eu achei muito estranho você ir atrás da Raquel pra falar da gente. Se alguém tem que explicar alguma coisa pra Raquel, sou eu, que tive um namoro com ela”, dispara Ivan, numa sequência que revela o abismo emocional entre os dois, apesar da recente aproximação física.
A tensão entre os personagens não apenas evidencia a instabilidade da relação, mas também toca em feridas profundas da trajetória de Heleninha, cujo passado com o alcoolismo segue sendo um tema delicado e carregado de estigmas. A personagem, filha da temida Odete (Débora Bloch), transita entre a redenção e a recaída, enfrentando não apenas os julgamentos externos, mas as cicatrizes internas que seu histórico familiar e pessoal deixaram.
Em entrevista concedida ao jornal O Globo, a atriz Paolla Oliveira falou sobre os desafios e a relevância social da personagem. Segundo ela, Heleninha transcende o rótulo de alcoólatra e representa um retrato comovente da mulher que luta por sua identidade em meio ao preconceito e à fragilidade emocional.
“Há 37 anos, Heleninha representou um grande passo. Naquela época, a personagem fez com que mais pessoas ingressassem no Alcoólicos Anônimos e aumentou o número de mulheres mostrando necessidade de ajuda”, lembrou Paolla. “Mas, ao mesmo tempo, a sociedade distanciava e apontava o alcoolista. Apesar de o alcoolismo ser reconhecido como doença, o estigma continua.”
A atriz também destacou que, embora mantenha uma relação equilibrada com o consumo de álcool, tem consciência dos impactos profundos da dependência, sobretudo entre mulheres. “Ouvi relatos de mulheres que, dez anos depois, ainda choram nas reuniões do AA por terem esquecido de buscar o filho na escola. Fora a vergonha que sentem em se relacionar com pessoas que, no dia seguinte, não sabiam quem eram.”
Para Paolla, o papel de Heleninha é uma oportunidade rara de explorar com profundidade os dilemas femininos marcados por culpa, vergonha e solidão. “Para muita gente, a Heleninha era só uma alcoolista. Mas é muito mais do que isso. Está sendo delicioso descobrir a mulher incrível que não fazia parte da minha imagem.”
O enredo de Vale Tudo, clássico de Gilberto Braga que volta às telas em nova versão, mantém sua força crítica e capacidade de provocar reflexão sobre temas sociais relevantes. O drama vivido por Heleninha e Ivan, longe de ser apenas uma história de amor fracassado, revela a fragilidade das relações humanas quando confrontadas com traumas mal resolvidos, orgulho ferido e a necessidade de aceitação.
Enquanto o público acompanha com emoção cada passo dessa narrativa intensa, fica o retrato cru e honesto de personagens que, mesmo em meio ao glamour da alta sociedade, revelam a vulnerabilidade que atravessa todos os estratos sociais. O amor, na história de Heleninha e Ivan, mostra-se tão frágil quanto corajoso — e ainda assim, profundamente humano.
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