Mato Grosso do Sul, 2 de maio de 2025
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Viatura em motel, frases obscenas e intimidações: o rastro de abusos de um oficial da PM em Mato Grosso do Sul

Mesmo afastado do comando, tenente-coronel acusado de assédio sexual, moral e injúria racial por colegas segue sem punição enquanto denúncias se acumulam e vítimas vivem sob medo
Imagem - Ilustrativa
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O mês de abril foi marcado por depoimentos, medo e revolta entre policiais militares do interior de Mato Grosso do Sul. A razão: a série de denúncias envolvendo um oficial da PM que, mesmo afastado do comando, segue exercendo funções no alto escalão da corporação enquanto é investigado por assédio sexual, assédio moral, injúria racial e uso indevido de viatura oficial para fins pessoais. As vítimas pedem justiça e proteção.

A história que circula nos corredores da PM de Mato Grosso do Sul parece roteiro de filme, mas é realidade vivida por ao menos sete policiais que denunciaram um tenente-coronel por abusos diversos. O oficial, que comandou uma unidade da PM em região de fronteira entre julho de 2023 e dezembro de 2024, agora ocupa cargo estratégico no Comando-Geral, mesmo com uma série de investigações abertas contra ele na Corregedoria da corporação.

Entre os fatos que mais causaram indignação, está o vídeo que mostra uma viatura da PM, descaracterizada, entrando em um motel em pleno horário de serviço. O carro, do tipo Fiat Strada, foi cedido por ordem do próprio oficial para uso exclusivo da unidade, mas era visto com frequência sendo utilizado pelo tenente-coronel para compromissos que nada tinham a ver com a segurança pública. O veículo ainda consta como parte do batalhão, conforme consulta feita no fim de abril.

Mais grave que o uso irregular da viatura são os relatos de assédio sexual cometidos por ele contra subordinadas. As vítimas afirmam que o comandante usava sua posição para fazer abordagens com conotação sexual, aplicar represálias em quem rejeitava suas investidas e até oferecer benefícios em troca de favores íntimos. Uma delas disse que, durante um curso de formação, ele comentou em sala que o “melhor mesmo era um ménage”, provocando constrangimento geral.

Em outro episódio, uma policial que estava sendo investigada administrativamente foi chamada à sala do comandante. Lá, segundo depoimento, ele insinuou que poderia ajudá-la a se livrar do processo caso ela aceitasse suas propostas. “Você precisa de alguém mais velho e mais experiente”, teria dito o oficial. A policial saiu chorando da conversa, como descreveu: “Toda vez que ele me chamava na sala dele, saía de lá chorando”.

Relatos apontam ainda que, após ser rejeitado, o comandante mudava de postura. Passava a perseguir, punir e humilhar as policiais. Uma das vítimas contou que foi chamada para comparecer ao batalhão fora do expediente e, por não poder ir imediatamente, foi repreendida no dia seguinte com gritos em público. “Quero sua cabeça!”, berrou o tenente-coronel, completando depois no refeitório que queria “pendurá-la no mastro da bandeira”.

Além dos abusos sexuais e psicológicos, há denúncias de injúrias raciais e ameaças. Policiais que prestaram depoimentos dizem temer o retorno do oficial à chefia da unidade, já que ele estaria espalhando que “vai voltar e infernizar quem o denunciou”.

Quando questionado, o tenente-coronel nega todas as acusações. Diz que está sendo vítima de uma campanha anônima e que nunca foi alvo de denúncias anteriores em seus 23 anos de carreira. Sobre o vídeo da viatura no motel, ele se limitou a dizer que não tem declarações a fazer e que as questões devem ser tratadas pelos canais institucionais da PMMS. Na mesma resposta, ainda advertiu a jornalista sobre “veiculações levianas”.

A Corregedoria-Geral da PM confirmou que os procedimentos estão em curso e que não há prazo definido para conclusão. Em nota, informou que o caso será encaminhado ao Ministério Público e à Justiça Militar Estadual assim que as apurações forem encerradas.

Enquanto isso, o clima na unidade é de medo. As policiais seguem trabalhando sob o peso do trauma e da insegurança. A ausência de respostas rápidas alimenta a sensação de impunidade e ameaça a saúde emocional das vítimas. Há relatos de ansiedade, depressão e afastamentos médicos.

A situação evidencia um grave problema estrutural: a dificuldade de se responsabilizar altos cargos dentro das corporações militares, onde o poder hierárquico ainda pesa mais que o direito à dignidade. O caso escancara a urgência por mecanismos mais transparentes, seguros e céleres para acolher denúncias e proteger vítimas.

Neste cenário, o silêncio pode ser cúmplice, e a verdade, a única saída. As vítimas esperam que a justiça, enfim, prevaleça.

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