O que começou como mais um dia comum em Campo Grande, no bairro São Conrado, terminou por revelar um dos crimes mais brutais e premeditados da história recente da cidade. Vanessa Eugênia Medeiros, de apenas 23 anos, e sua filha, Sophie Eugênia Borges, de 10 meses, foram assassinadas e posteriormente carbonizadas pelo próprio companheiro e pai da criança, João Augusto Borges, de 21 anos. O crime, cometido na última segunda-feira, dia 26, chocou não apenas a população, mas também a polícia, que se viu diante de uma cena de extrema brutalidade e frieza.
O suspeito foi preso ainda na manhã do mesmo dia, enquanto registrava um boletim de ocorrência na 6ª Delegacia de Polícia Civil, alegando o desaparecimento da esposa e da filha. A Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) rapidamente desconfiou da versão apresentada e iniciou uma investigação que, em poucas horas, confirmou que o próprio homem era o autor do crime.
De acordo com o delegado Rodolfo Daltro, responsável pela investigação, o assassino demonstrou uma frieza perturbadora desde o momento do interrogatório até o relato minucioso de como executou o crime. O homem confessou ter atraído Vanessa para o quarto, sob o pretexto de conversar sobre o relacionamento. Enquanto a bebê permanecia na cama, entretida com alguns brinquedos, ele aplicou um golpe conhecido como “mata-leão” na companheira, imobilizando-a também pelos pés para assegurar que ela não pudesse reagir. Em seguida, dirigiu-se até a filha e, de forma igualmente brutal, esganou a criança.
O crime ocorreu por volta das 16 horas, durante o intervalo de almoço do suspeito. Demonstrando uma rotina perturbadoramente normal após os assassinatos, ele retornou ao trabalho como se nada tivesse acontecido. Em seu depoimento, relatou que acreditava que os corpos só seriam encontrados após dois ou três dias, o que lhe daria tempo suficiente para forjar outra versão e incriminar uma terceira pessoa.
Por volta das 19 horas, após encerrar sua jornada de trabalho, o homem parou em um posto de combustíveis, onde adquiriu R$ 16 em gasolina. Ao chegar em casa, enrolou os corpos de Vanessa e Sophie em cobertores, colocou-os no porta-malas de um veículo modelo Gol, de cor preta, e dirigiu-se até a região do distrito de Indubrasil. No local, ateou fogo nos corpos, numa tentativa de ocultar as evidências do duplo homicídio.
Os trabalhos periciais constataram fraturas nos pescoços de ambas as vítimas, revelando a violência dos golpes e a brutalidade das ações do assassino. O delegado Rodolfo Daltro destacou que, durante todo o interrogatório, o homem não demonstrou qualquer sinal de arrependimento ou emoção. Ao ser questionado sobre o crime, limitou-se a dizer: “Dormi melhor que sempre porque me livrei de um problema”.
As investigações revelaram ainda que o crime vinha sendo premeditado há pelo menos dois meses. Testemunhas ouvidas pela polícia relataram que o suspeito havia manifestado, diversas vezes, sua intenção de matar Vanessa e Sophie. Em uma dessas ocasiões, chegou a pedir orientações sobre como fazer nós para prender as mãos e os pés das vítimas. Apesar das declarações perturbadoras, as testemunhas não acreditaram que ele realmente fosse capaz de consumar tal ato.
Além disso, mensagens enviadas pelo suspeito às testemunhas indicam que ele já havia decidido que incineraria os corpos logo após o assassinato. Em uma delas, afirmou: “Tenho que queimar logo os corpos porque eles vão começar a feder”. Essa frieza e a clareza de seus planos foram elementos fundamentais para a rápida elucidação do crime.
A motivação para tamanha barbaridade, segundo apurado pela DHPP, foi o desejo do suspeito de não arcar com as obrigações financeiras decorrentes do fim do relacionamento. O casal estava junto há cerca de dois anos, e desde o nascimento da filha, há 10 meses, vinha enfrentando dificuldades conjugais e financeiras. O homem temia que, ao encerrar a relação, fosse obrigado a pagar pensão alimentícia à ex-companheira e à filha, o que, segundo ele, “não queria de forma alguma”.
Mesmo com a intenção premeditada de cometer o duplo homicídio, o suspeito mantinha nas redes sociais a imagem de um pai amoroso e presente. Em sua biografia, identificava-se como “pai da Sophie” e publicava frequentemente fotos ao lado da esposa e da bebê. A última postagem ao lado de Vanessa e Sophie foi realizada no dia 10 de fevereiro, contrastando violentamente com a brutalidade e a frieza com que as assassinou.
Durante a coletiva de imprensa realizada na tarde de terça-feira, dia 27, o delegado Rodolfo Daltro não escondeu sua comoção e indignação. “Tivemos que parar, há certo momento em que eu paro, eu como pai e os outros policiais que estavam ali na sala. De tamanha brutalidade e frieza de relatar como matou. São detalhes muito grotescos que vou até poupá-los”, declarou visivelmente abalado.
Outro policial envolvido na investigação, com mais de 22 anos de experiência na área, também ficou profundamente impactado com o caso. “Um pai matando uma criança da forma que foi feito, é um caso que, para policiais há muitos anos nesse trabalho, nos chocou”, ressaltou Daltro.
O homem foi autuado em flagrante pelos crimes de feminicídio qualificado e destruição de cadáver. Na quarta-feira, dia 28, ele passou por audiência de custódia, na qual a Justiça decidiu pela manutenção de sua prisão preventiva, tendo em vista a gravidade dos fatos e a periculosidade do acusado.

Vanessa e Sophie foram encontradas carbonizadas na noite de ontem (26) – Reprodução/Instagram
Este crime bárbaro, além de gerar enorme comoção social, reacende debates sobre a necessidade de reforçar políticas públicas de proteção às mulheres e crianças, bem como sobre o fortalecimento das redes de apoio que possam prevenir tragédias familiares resultantes de relações abusivas e violentas.
O assassinato de Vanessa Eugênia Medeiros e de sua filha, Sophie Eugênia Borges, permanece como um dos casos mais trágicos e revoltantes de feminicídio e infanticídio registrados em Campo Grande, deixando uma marca indelével na memória da cidade e servindo de alerta para toda a sociedade.
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