Um episódio inusitado e polêmico ocorrido durante um culto religioso em São Paulo, no último domingo, viralizou nas redes sociais e trouxe à tona uma série de reflexões sobre a crescente popularidade dos chamados bebês reborn. O caso se deu na Igreja Família de Deus, onde o pastor e influenciador conhecido como Bispo Baeta protagonizou uma cena que causou espanto e dividiu opiniões: ao ser convidado por uma fiel para orar e ungir o que parecia ser um bebê, o pastor, percebendo que se tratava de um boneco hiper-realista, o chutou ao chão em sinal de reprovação, diante de todos os presentes.
O momento foi gravado e compartilhado nas redes sociais, alcançando milhões de visualizações em poucas horas e tornando-se objeto de intensos debates. Segundo relatos, a fiel havia levado o bebê reborn até o culto em uma celebração especial do Dia das Mães, com o pedido de que o pastor realizasse uma oração pela “criança”. Inicialmente, o Bispo Baeta acreditou que o boneco fosse uma criança de verdade, o que explica a surpresa e indignação ao constatar que era, na realidade, um objeto.
Visivelmente chocado com a situação, o pastor não apenas chutou o boneco como também utilizou a Bíblia para fundamentar uma reprimenda aos fiéis presentes, alertando-os sobre os riscos espirituais que, segundo ele, estão associados à devoção ou transferência de sentimentos para objetos inanimados. Baseado no Salmo 115, o líder religioso ressaltou que não é pecado possuir uma boneca reborn, mas advertiu que práticas que atribuem sentimentos, afeto e até rituais religiosos a tais objetos poderiam configurar, sob a ótica cristã, uma forma moderna de idolatria.
A ascensão do fenômeno reborn e os novos contornos do afeto humano
Criados inicialmente como peças de coleção, os bebês reborn transformaram-se, nos últimos anos, em um fenômeno cultural e psicológico de alcance global. Caracterizados pelo realismo impressionante, com detalhes meticulosos como textura da pele, peso e expressões faciais, esses bonecos passaram a desempenhar múltiplos papéis na vida de seus proprietários.
Muitas pessoas, em especial mulheres que enfrentaram perdas gestacionais, infertilidade ou dificuldades emocionais, recorrem aos bebês reborn como uma forma de elaborar o luto, preencher um vazio afetivo ou simplesmente para vivenciar experiências de cuidado materno. A prática, embora terapêutica para alguns, é vista por outros com estranhamento ou mesmo preocupação, especialmente quando o envolvimento afetivo atinge níveis intensos, como levar o boneco a consultas médicas ou, como no caso ocorrido em São Paulo, a cerimônias religiosas.
O episódio protagonizado pelo Bispo Baeta evidencia, mais uma vez, a dificuldade de parte da sociedade — especialmente setores religiosos mais conservadores — em compreender ou aceitar certas manifestações emocionais e simbólicas que os bebês reborn suscitam. Para o pastor, o ato de solicitar uma unção religiosa a um boneco foi interpretado como um excesso de atribuição de humanidade a um objeto, ultrapassando, em sua visão, os limites da sã espiritualidade.
Debates sobre saúde mental e espiritualidade no uso dos bebês reborn
Especialistas em saúde mental, contudo, apontam que o uso dos bebês reborn não deve ser reduzido a uma questão de idolatria ou desvio religioso, mas antes compreendido no contexto das necessidades emocionais e afetivas de quem os adquire. Psicólogos e terapeutas destacam que, em muitos casos, esses bonecos funcionam como instrumentos terapêuticos, promovendo conforto e bem-estar, desde que seu uso não comprometa a percepção da realidade ou substitua relações humanas autênticas.
Por outro lado, estudiosos da religião e líderes espirituais mais ortodoxos mantêm reservas quanto a esse tipo de prática, considerando que ela pode estimular o apego excessivo a objetos, gerando confusões afetivas e espirituais. O uso simbólico ou ritualístico, como foi o caso da tentativa de unção do boneco, intensifica ainda mais tais controvérsias.
O impacto das redes sociais e o papel da internet na propagação do fenômeno
A disseminação viral do vídeo nas redes sociais ampliou a repercussão do episódio e potencializou a reflexão sobre os limites e as possibilidades do fenômeno reborn. A internet, que já vinha sendo um dos principais vetores da popularização desses bonecos, agora também se consolida como espaço privilegiado para o debate sobre seus efeitos psicológicos, culturais e espirituais.
Além disso, a cena registrada na Igreja Família de Deus levanta questões sobre o papel da liderança religiosa diante de novas práticas e fenômenos culturais que desafiam interpretações tradicionais das escrituras e dos rituais de fé. O próprio Bispo Baeta, conhecido por sua atuação incisiva nas redes sociais, reiterou após o ocorrido sua posição crítica em relação ao uso afetivo ou religioso de objetos inanimados, mas reforçou que sua intenção não foi agredir a fiel, e sim alertar para os riscos espirituais de tais práticas.
Reflexões sobre o afeto e os limites simbólicos da devoção
O caso ocorrido em São Paulo é mais do que um episódio isolado: trata-se de um sintoma das complexas transformações pelas quais passam as formas de expressar afeto e de vivenciar a espiritualidade na sociedade contemporânea. A busca por conforto emocional, o enfrentamento de dores pessoais e a necessidade de pertencimento encontram, nos bebês reborn, uma materialização possível — mas que, ao mesmo tempo, desafia paradigmas religiosos, psicológicos e sociais.
Enquanto muitos veem nesses bonecos uma forma legítima e inofensiva de expressão afetiva, outros alertam para os riscos de uma relação que, ao ultrapassar certos limites, possa transformar-se em substituição emocional ou idolatria.
Neste cenário, a cena protagonizada pelo pastor e pela fiel torna-se emblemática de uma sociedade que, entre o desejo de acolhimento emocional e os limites impostos pela tradição e pela religião, ainda busca compreender as fronteiras do humano, do espiritual e do simbólico.
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