Mato Grosso do Sul, 7 de junho de 2025
Campo Grande/MS
Fuente de datos meteorológicos: clima en Campo Grande a 30 días

Ex-integrante do Raça Negra, Edson Café morre em São Paulo e quase é enterrado como indigente

Do sucesso ao abandono: a história trágica de Edson Café, músico que brilhou nos palcos do Brasil e terminou os dias nas ruas da capital paulista, longe da fama e dos aplausos
Edson Café era integrante do Raça Negra
Imagem: Reprodução/Record
Edson Café era integrante do Raça Negra Imagem: Reprodução/Record

Na tarde silenciosa do domingo, 1º de junho, a música brasileira perdeu, sem muito alarde, uma de suas vozes que marcaram época nos anos 1990. Edson Bernardo de Lima, conhecido artisticamente como Edson Café, ex-integrante do icônico grupo Raça Negra, morreu aos 69 anos em um hospital da zona leste de São Paulo. Sem documentos, desamparado e distante dos palcos, seu corpo foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) como indigente. Por pouco, não foi enterrado sem nome, sem velório, sem despedida.

Café foi encontrado desacordado em uma calçada de Itaquera, bairro periférico da capital paulista. De acordo com o boletim de ocorrência, ele foi levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Carrão, onde sofreu um infarto. Em estado crítico, foi intubado e encaminhado ao Hospital Municipal do Tatuapé, onde veio a falecer algumas horas depois. Não carregava documentos. Estava só. Um homem invisível numa das maiores metrópoles do mundo.

A história da quase tragédia final só não foi completa graças ao reconhecimento de uma mulher desconhecida, que, ao vê-lo no IML, identificou seu rosto e alertou amigos próximos. Entre os que receberam a notícia estava Xênia Alves, amiga de longa data e ex-cuidadora de Café. Foi ela quem revelou que, nos últimos três anos, o músico vivia em situação de rua, revezando noites entre a Favela 3 Coco, em Itaquera, e a Praça Sampaio Vidal, na Vila Formosa.

“Ele saiu de casa por vontade própria, não quis continuar o tratamento. Eu tentei ajudar, mas ele queria viver na rua”, contou Xênia. Segundo ela, Café lutava há décadas contra a dependência química, um problema que se agravou nos últimos anos e o afastou completamente do convívio familiar e artístico.

O corpo do músico foi finalmente reconhecido por dois de seus filhos, Junior e Fábio. Eles formalizaram a identificação no IML e impediram que o pai fosse sepultado como indigente. O episódio comoveu o público que ainda se recordava do carismático percussionista e vocalista que, nos tempos de ouro, dividiu os palcos com Luiz Carlos, vocalista do Raça Negra, um dos grupos mais bem-sucedidos da história do pagode e do samba romântico no Brasil.

Edson Café fez parte da formação original do Raça Negra, grupo nascido no final da década de 1980 na cidade de São Caetano do Sul, em São Paulo. A banda se destacou por popularizar o samba com apelo romântico e letras acessíveis ao grande público. Sucessos como “Cheia de Manias”, “É Tarde Demais”, “Doce Paixão” e “Me Leva Junto Com Você” embalaram milhões de brasileiros, especialmente nos anos 1990, época em que o grupo lotava ginásios e acumulava discos de ouro e platina.

Café, com seu timbre marcante e presença de palco envolvente, ajudou a consolidar a identidade sonora do Raça Negra. Nos bastidores e sobre o palco, era conhecido pelo entusiasmo com que tocava e pela entrega emocional nas apresentações. Entretanto, conforme o grupo crescia e passava por reformulações, ele se distanciava. Saiu do grupo discretamente, afastando-se da fama e mergulhando em uma trajetória pessoal marcada por dificuldades financeiras, desilusões e, sobretudo, pela dependência de drogas.

Durante anos, tentou retomar a carreira em pequenos projetos, tocando em bares e festas, mas sem conseguir reerguer-se por completo. Alternava momentos de recuperação com recaídas. Em determinados períodos, viveu em casas de apoio e chegou a ser acolhido por amigos e familiares, mas não permanecia por muito tempo. O vício, como relatou Xênia, sempre falava mais alto.

A morte de Café lança luz sobre um problema recorrente no universo artístico: o abandono de figuras que, após o apogeu, enfrentam o esquecimento e, muitas vezes, a solidão e a miséria. Para muitos, ele era apenas mais um entre tantos nomes que passaram pelo Raça Negra. Para outros, especialmente para quem acompanhou a banda desde o início, era um símbolo de um tempo em que o samba-pop romântico dominava as rádios e animava as tardes de domingo no Brasil.

As prováveis causas da morte, segundo os médicos que o atenderam, foram complicações cardiovasculares em decorrência do infarto sofrido na UPA. Seu estado físico debilitado, agravado por anos de dependência química e desnutrição, contribuiu para o desfecho fatal.

Café se foi em silêncio, longe dos palcos e dos holofotes, mas deixou uma marca indelével na memória musical de uma geração. Sua trajetória, embora marcada pelo sofrimento no final, também foi feita de brilho e de paixão pela arte. Ao contrário de seu corpo, quase sem nome, sua voz ainda ecoa nas canções que fazem parte do imaginário afetivo de milhões de brasileiros.

#EdsonCafe #RacaNegra #SambaRomantico #MusicaBrasileira #DesigualdadeSocial #DependenciaQuimica #CulturaPopular #TragediaSilenciosa #ArtistasEsquecidos #HistoriaDoSamba #LegadoMusical #BrasilProfundo

Suas preferências de cookies

Usamos cookies para otimizar nosso site e coletar estatísticas de uso.