O domingo parecia tranquilo no Bairro Jardim Monte Alegre, em Campo Grande, até que o som de disparos rompeu o silêncio e revelou mais um capítulo violento ligado ao tráfico de drogas. Era por volta das 14h quando Ezequiel Euzebio Olegário Marques, de 32 anos, foi executado com tiros de pistola enquanto ainda estava dentro de seu carro, um Volkswagen Gol preto, no cruzamento das ruas Pentecoste com Barrabás.
Poucas horas depois, o vídeo da execução já circulava nas redes sociais, e uma frase chamou a atenção dos investigadores. “Achei que a árvore ia tampar”, disse Endrel Sixtro Ferreira, de 21 anos, ao conversar com um amigo sobre o crime. Ele foi preso na noite seguinte por uma equipe da Força Tática, enquanto queimava as roupas usadas no assassinato numa casa no Bairro Aero Rancho.
Endrel, com um histórico extenso de crimes, incluindo tráfico, roubo e furtos, confessou friamente que matou Ezequiel por desavenças no mundo do tráfico. Segundo seu relato à polícia, Ezequiel teria desaparecido com 80 quilos de pasta base de cocaína que lhe pertenciam. Na mente do jovem criminoso, a solução foi uma execução pública, num horário em que várias pessoas ainda circulavam pelas ruas do bairro.
As imagens mostram Endrel saindo do carro que era conduzido por Ezequiel, indo até o portão de uma casa e sendo seguido pela vítima, que manobra o carro até o local. Quando o veículo para, Endrel caminha até a porta do motorista e dispara. Ezequiel foi atingido no rosto e morreu na hora, ainda sentado no banco do carro. No chão, ficaram espalhadas quatro cápsulas de pistola 9 milímetros.
No celular do acusado, os policiais encontraram trocas de mensagens com um contato salvo como “Gordinho”. Numa delas, Endrel comenta ter assistido ao vídeo da execução e relata acreditar que a árvore no local encobriria sua imagem. “Eu vi lá o vídeo da onde eu peguei ele lá. Ei pensei que a árvore ia tampar, mas árvore não tampou. A árvore tampou eu atirando, mas não tampo eu correndo nem chegando”, diz o áudio transcrito pela polícia.
Em outro trecho da conversa, ele aparenta estar tranquilo, afirmando que seu advogado já estava ciente da situação. “Está de boa. O advogado está acompanhando ali para mim. Ele falou para eu ficar no meu canto, que vai me alertando”, afirmou, demonstrando certa confiança na impunidade.
Endrel foi preso em flagrante pelo crime de homicídio qualificado. A arma usada na execução, segundo ele, foi entregue logo depois a um boliviano conhecido apenas como Samuel, que agora também está na mira da polícia. A Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras) acompanha o caso.
Ezequiel, por sua vez, não era um desconhecido das autoridades. Ele já tinha passagens por receptação, roubo, e era velho conhecido das operações contra contrabando em Mato Grosso do Sul. Em 2018, foi alvo da operação “Máfia dos Cigarreiros”, que desmantelou uma grande quadrilha envolvida em transporte ilegal de cigarros, inclusive com participação de policiais militares.
Em processos da Justiça Federal, consta que ele já havia sido flagrado transportando grandes cargas de cigarro. Em 2019, foi pego com 30 mil maços em Sidrolândia. Em 2020, voltou a ser detido com 800 pacotes vindos do Paraguai.
O caso escancara o cenário de violência que se alimenta do tráfico de drogas e do contrabando na fronteira. Mostra também o quanto a ousadia dos criminosos aumentou, a ponto de acreditarem que uma árvore bastaria para esconder um assassinato à luz do dia. E expõe o retrato de um submundo onde o acerto de contas vale mais que a vida.
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