A disputa comercial entre Estados Unidos e China, que parecia no começo apenas mais uma briga entre gigantes econômicos, está se tornando um divisor de águas no cenário agrícola global. O Brasil, que antes observava de longe, agora assume papel de protagonista. Com os desdobramentos mais recentes da guerra tarifária, o agro brasileiro passou de coadjuvante a ator principal, assumindo fatias de mercado que antes eram dominadas pelos americanos. E isso não é pouca coisa.
Desde que Donald Trump impôs tarifas pesadas sobre produtos chineses em seu primeiro mandato, Pequim reagiu taxando diversas mercadorias dos Estados Unidos, entre elas os produtos agrícolas, como soja e carnes. Essa reação afastou os produtores americanos de um dos seus maiores mercados consumidores, abrindo espaço para o Brasil ocupar esse vácuo. E foi exatamente o que aconteceu.
Durante a primeira onda da guerra comercial, o Brasil se firmou como o principal fornecedor de soja para a China, posição que antes era amplamente dominada pelos Estados Unidos. Em poucos anos, os embarques brasileiros para o país asiático dispararam, levando divisas para o campo, gerando empregos e fortalecendo ainda mais o agronegócio nacional. Agora, com uma nova escalada nas tensões entre os dois países, esse movimento ganha mais força.
No início de 2025, Pequim anunciou uma nova rodada de tarifas sobre produtos agrícolas americanos, o que imediatamente redirecionou pedidos e contratos para os exportadores brasileiros. A carne bovina brasileira, por exemplo, teve um aumento de cerca de 30% nas exportações só no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano anterior. Produtos como frango e soja também seguem o mesmo caminho, com alta expressiva na demanda por parte dos chineses.
Enquanto isso, os produtores americanos continuam contando prejuízos. A Associação Americana de Produtores de Soja divulgou recentemente que o setor perdeu 10% do mercado chinês desde a primeira guerra tarifária e que esse espaço, até hoje, não foi recuperado. Segundo a entidade, os subsídios oferecidos pelo governo dos Estados Unidos não foram suficientes para compensar as perdas, e o desânimo é visível entre os agricultores do meio-oeste americano.
O Brasil, por outro lado, vem acumulando vantagens. Além do aumento nas exportações para a China, a União Europeia também passou a comprar mais do Brasil depois de impor tarifas de 25% sobre a soja, carne bovina e frango vindos dos Estados Unidos. A reconfiguração das relações comerciais no mundo, provocada por essas tensões, acabou tornando o agronegócio brasileiro ainda mais atrativo.
Analistas afirmam que a reputação do Brasil como fornecedor confiável de alimentos ajuda bastante. A estrutura logística ainda apresenta gargalos, mas o setor tem mostrado capacidade de adaptação. Em vários estados produtores, os investimentos em armazenagem, transporte e infraestrutura rural cresceram, justamente para atender à demanda crescente do mercado externo.
No entanto, nem tudo é tão simples quanto parece. Há um risco real de o Brasil não conseguir atender toda essa nova demanda, o que poderia gerar gargalos na cadeia de produção e até impacto nos preços internos. O CEO do Conselho de Exportação da Soja dos EUA, Jim Sutter, declarou ao Financial Times que os estoques brasileiros “serão rapidamente absorvidos” se tanto China quanto Europa mantiverem o foco nas importações vindas do Brasil.
Ainda assim, os ganhos têm sido consistentes. O agro brasileiro vive um momento raro, em que a geopolítica internacional se alinha com a capacidade produtiva do país. A competitividade dos produtores nacionais, aliada à qualidade dos produtos e ao bom relacionamento comercial com diversas nações, colocou o Brasil na linha de frente da alimentação mundial.
Se a guerra comercial trouxe dores de cabeça para os americanos, para o Brasil ela tem se mostrado uma verdadeira bênção. O desafio agora é manter a qualidade, investir na estrutura e garantir que essa liderança não seja apenas passageira, mas consolidada de vez como parte do futuro do país.
#agrobrasil #exportações #soja #carnebovina #frango #mercadointernacional #china #uniaoeuropeia #guerraeconômica #agrobusiness #agroforte #agroétech