Os presidentes dos países-membros do Mercosul se reúnem nesta sexta-feira (6) em Montevidéu na expectativa do aguardado anúncio do acordo comercial com a União Europeia. Declarações do chanceler uruguaio, Omar Paganini, de diplomatas brasileiros e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sinalizaram que as partes chegaram a um consenso e que a parceria poderá ser, enfim, oficializada.
A líder do bloco europeu anunciou o avanço nas negociações nas redes sociais quando chegou em solo uruguaio, o que não estava confirmado até a véspera. “A linha de chegada do acordo está à vista. Vamos trabalhar e vamos cruzá-la. Temos a chance de criar um mercado de 700 milhões de pessoas. A maior parceria de comércio e investimentos já vista. Ambas as regiões vão se beneficiar”, afirmou Von der Leyen.
Horas depois, o chanceler uruguaio disse que as negociações foram concluídas e “todos os países se pronunciam a favor do acordo que foi recebido pela União Europeia a respeito do texto para o acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia”.
Segundo ele, o anúncio será feito depois da reunião dos presidentes. Apesar de mais cautelosos, diplomatas brasileiros também demonstraram otimismo com o acordo, que ainda levará algum tempo para ser assinado.
Na avaliação de um negociador, o anúncio conjunto com a participação de Von Der Leyen e dos líderes do Mercosul será o gesto político mais importante, desde o início das negociações há duas décadas, bem como de uma vitória importante das diplomacias sul-americanas e europeias. “É uma vitória do multilateralismo”, resumiu integrante da comitiva brasileira.
Próximos passos
Uma vez concluída a negociação, o texto terá que passar por um longo processo burocrático, com tradução para dezenas de idiomas, por exemplo. Na etapa seguinte, de viés mais político, o texto será submetido à votação nos Parlamentos europeu e de cada país do Mercosul.
Von der Leyen chegou ao Uruguai horas depois de o governo do presidente da França, Emmanuel Macron, ter colapsado. Um voto de desconfiança no Parlamento, dado em meio a esforços para conter o déficit orçamentário do país, que é contrário ao acordo, deixou Macron com a missão de encontrar um novo primeiro-ministro.
O acordo, que vem sendo negociado há mais de 20 anos, não é consenso na Europa. Além da resistência francesa e de ressalvas da Holanda e da Polônia, agricultores promoveram muitos protestos contra a parceria, que vai impulsionar o fluxo global de carne bovina e grãos. Eles também alegam que os produtos sul-americanos não estão sujeitos aos mesmos padrões ambientais e de segurança alimentar que os da UE.
Por outro lado, países como a Alemanha, principal potência econômica da Europa, insistem que o acordo é vital para o bloco, à medida que busca diversificar seu comércio após o quase fechamento do mercado russo e diante do desconforto com a crescente dependência da China.
“Se conseguirmos um acordo será uma grande notícia para a União Europeia”, disse o ministro da Agricultura da Espanha, Luis Planas, em um evento em Bruxelas, acrescentando que seria bom para as exportações e mostraria que a Europa “não está trancada atrás de nossas portas”.
Para aprovar o texto pelo lado da União Europeia, o documento tem de ser aprovado no Parlamento Europeu e no Conselho Europeu. No Parlamento, basta a maioria simples de 720 deputados. No Conselho a conta é mais complicada: é preciso o aval de 55% do colegiado, ou 15 países, mas que representam 65% da população do bloco.
A oposição francesa não é suficiente para derrubar o acordo no Parlamento e no Conselho Europeu. Há, no entanto, o temor de que Macron crie um grupo de oposição, agregando países que também expressaram a insatisfação com o acordo. Além de Polônia e Holanda, a Itália começou a dar sinais de insatisfação.