Em um ato marcado por forte simbolismo político e social, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve, nesta quarta-feira, 28 de maio, na cidade de Salgueiro, em Pernambuco, para lançar a obra de duplicação do sistema de bombeamento de água, dentro do projeto da transposição do Rio São Francisco. O evento não apenas reforçou a presença histórica do governo federal na região, mas também representou um avanço significativo na política de segurança hídrica do Nordeste brasileiro.
O presidente, acompanhado de ministros, lideranças políticas e representantes de movimentos sociais, reiterou o compromisso de sua gestão com as populações que tradicionalmente enfrentam os efeitos mais severos da seca e da escassez hídrica. Lula aproveitou a ocasião para reforçar o caráter social da obra, lembrando que o objetivo central da transposição do Rio São Francisco é garantir água potável, melhorar a qualidade de vida e fomentar o desenvolvimento econômico em uma das regiões mais castigadas historicamente pela falta de acesso à água.
As novas obras anunciadas nesta etapa, que incluem a duplicação da estação de bombeamento e a expansão de trechos de canais e adutoras, irão beneficiar diretamente cerca de 12 milhões de pessoas nos estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Este contingente populacional abrange comunidades urbanas e rurais, pequenos produtores agrícolas, comerciantes e milhares de famílias que dependem da regularidade do abastecimento para garantir sua subsistência e dignidade.
Durante o discurso, o presidente destacou que o compromisso firmado com o povo nordestino é uma continuidade de políticas públicas iniciadas em governos anteriores do Partido dos Trabalhadores, mas que foram, segundo ele, negligenciadas pela administração do ex-presidente Jair Bolsonaro. Lula afirmou que seu antecessor “só sabia mentir” e classificou como fundamental que os eleitores não “votem em qualquer tranqueira para governar este país”. A fala reforçou a linha política de seu discurso, que buscou diferenciar sua gestão da anterior ao enfatizar a entrega de obras concretas em oposição a um suposto predomínio de discursos e notícias falsas.
O presidente também criticou o abandono de programas sociais e de infraestrutura herdados de governos anteriores, como o Minha Casa Minha Vida e a construção de creches, que, segundo ele, ficaram paralisados nos últimos anos. “O compromisso que vocês têm que ter não é comigo, não. É com os filhos, com os netos, com os pais de vocês. A gente não pode votar em qualquer tranqueira para governar esse país. É preciso votar em gente que tenha compromisso, dignidade, que tenha o direito de olhar para vocês nos olhos”, afirmou Lula, sob aplausos.
A obra de transposição do Rio São Francisco, um dos maiores empreendimentos de infraestrutura hídrica da América Latina, tem sido apontada como uma solução definitiva para a histórica crise de abastecimento nas regiões mais áridas do Semiárido nordestino. Com um percurso de mais de 477 quilômetros entre canais, aquedutos, estações elevatórias e reservatórios, o projeto permite que a água do Velho Chico alcance cidades e povoados distantes do leito original do rio, modificando radicalmente a dinâmica socioeconômica dessas localidades.
Segundo dados do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, os dois eixos principais da transposição o Norte e o Leste já permitem que a água beneficie centenas de municípios, e com a nova etapa de duplicação do sistema de bombeamento, a capacidade de distribuição será ampliada em mais de 30%. Esse incremento viabilizará o abastecimento de comunidades que até hoje dependem de carros-pipa e de soluções improvisadas para ter acesso à água potável.
Lula também mencionou que gostaria de ter concluído a transposição ainda durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, mas reconheceu que entraves burocráticos, técnicos e políticos postergaram a conclusão das etapas mais complexas do projeto. Ressaltou ainda que a conclusão plena da obra depende da colaboração estreita com os governos estaduais e municipais, a quem cabe a tarefa de levar a água tratada até as casas das pessoas e aos empreendimentos locais.
“O papel dos prefeitos e dos governadores é fundamental. A água não pode parar no canal. Ela tem que chegar às casas, aos pequenos negócios, às lavouras familiares. É isso que garante a dignidade e a oportunidade para quem vive nesta terra”, enfatizou o presidente, dirigindo-se diretamente aos gestores locais presentes na cerimônia.
Apesar do tom político incisivo, Lula dedicou parte significativa de sua fala para reforçar a importância da segurança hídrica como direito fundamental e como instrumento de combate às desigualdades regionais. Destacou também a necessidade de consolidar políticas públicas que garantam o uso sustentável da água e a preservação dos recursos naturais do país.
A cerimônia de lançamento das novas obras também serviu de palco para o anúncio de outras iniciativas federais voltadas ao fortalecimento da popularidade de Lula na região Nordeste, historicamente um dos principais redutos eleitorais do petista. Mesmo assim, pesquisas recentes indicam uma queda na aprovação do governo, motivo pelo qual o presidente tem intensificado sua agenda de compromissos e investimentos na região, buscando consolidar a imagem de um governo que entrega obras e promove mudanças concretas na vida da população.
O projeto de transposição do Rio São Francisco é, portanto, mais do que uma obra de engenharia. É um símbolo político e social de superação de adversidades históricas, um marco da capacidade do Estado brasileiro de intervir positivamente na vida das populações mais vulneráveis e uma vitrine do esforço contínuo para assegurar direitos básicos e desenvolvimento sustentável ao Nordeste.
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