Mato Grosso do Sul, 11 de junho de 2025
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Pesquisa inédita une cultura, economia e sustentabilidade para traçar novos caminhos no cuidado com o patrimônio brasileiro

Iphan e Obec iniciam investigação detalhada sobre os impactos econômicos do patrimônio cultural e propõem bases para políticas públicas de gestão integrada e sustentável
Casario do Porto de Corumbá, tomado como patrimônio histórico em 1993
Casario do Porto de Corumbá, tomado como patrimônio histórico em 1993

Em uma iniciativa inédita, cuidadosamente construída a partir da união entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Observatório da Economia Criativa (Obec), uma profunda pesquisa de campo foi iniciada com o propósito de lançar luz sobre uma das dimensões mais negligenciadas do patrimônio cultural brasileiro: sua relevância econômica. Com o nome “Patrimônio Cultural, Economia e Sustentabilidade”, o estudo investiga como os bens culturais do Brasil, reconhecidos internacionalmente, movimentam recursos, sustentam comunidades e podem ser geridos com equilíbrio entre tradição e inovação.

A pesquisa foi viabilizada por um Termo de Execução Descentralizada firmado no final de 2023 entre o Iphan e a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), com duração de três anos e aporte financeiro de R$ 1,5 milhão. Mais do que mapear práticas, o projeto pretende superar a histórica escassez de dados sobre a dimensão econômica do patrimônio cultural, fornecendo subsídios concretos para a formulação de políticas públicas, a avaliação de impactos e o fortalecimento da gestão compartilhada entre o poder público e a sociedade civil.

A equipe de campo, composta por pesquisadores do Obec e servidores do Iphan, iniciou em 2024 uma jornada que atravessa oito estados brasileiros. Utilizando métodos como observação participante, entrevistas com detentores dos saberes, trabalhadores da cultura, moradores e agentes envolvidos na cadeia produtiva dos bens culturais, o grupo busca compreender de forma ampla os fluxos econômicos, as interações sociais e os mecanismos de sustentação que orbitam os elementos do patrimônio material e imaterial.

O recorte do estudo engloba doze bens culturais já reconhecidos como Patrimônio da Humanidade ou Patrimônio Cultural Imaterial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). São eles: os centros históricos de Olinda, Salvador e São Luís; a Praça São Francisco em São Cristóvão, Sergipe; o Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí; as Ruínas de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul; o Complexo Cultural do Bumba meu Boi do Maranhão; o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, no Pará; a Arte Kusiwa, dos Wajãpi, no Amapá; o Frevo, de Pernambuco; o Samba de Roda do Recôncavo Baiano e a Roda de Capoeira, de abrangência nacional.

A amplitude da pesquisa é refletida nos produtos previstos para serem publicados em diferentes etapas. O primeiro boletim apresentará a sistematização da revisão bibliográfica sobre conceitos centrais como sustentabilidade econômica e valor patrimonial. O segundo boletim trará os primeiros dados coletados, focando nas dinâmicas econômicas em torno dos bens. O terceiro boletim ampliará a análise a partir de entrevistas virtuais com gestores públicos e agentes culturais. Ao final, será elaborado um relatório conclusivo e um programa de capacitação para servidores do Iphan, detentores, produtores culturais e organizações envolvidas com a salvaguarda do patrimônio.

Esta é a segunda fase do projeto. A primeira, já concluída, envolveu a imersão nos marcos teóricos, o mapeamento inicial de expectativas e a construção coletiva da metodologia com o apoio de especialistas, considerando as especificidades culturais, sociais e econômicas de cada território. A ideia central é romper com uma visão meramente simbólica do patrimônio, inserindo-o na centralidade das políticas de desenvolvimento sustentável.

O Observatório da Economia Criativa, responsável técnico pela pesquisa, nasceu em 2012 como parte de uma rede nacional de produção de conhecimento sobre economia criativa, articulada com universidades federais e com apoio do Ministério da Cultura. Com sede acadêmica na Universidade Federal da Bahia (UFBA), na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), o grupo atua de forma interdisciplinar, reunindo pesquisadores das áreas de artes, comunicação, economia, estatística, administração, produção cultural e ciências sociais.

As ações do Obec se estruturam em três grandes eixos. O primeiro é o de mapeamento e pesquisa, que contempla o levantamento de dados sobre territórios, comunidades, circuitos criativos e suas respectivas práticas econômicas. O segundo, centrado no estudo dos processos, busca compreender as estratégias de gestão, articulação em rede e sustentabilidade mercadológica dos empreendimentos culturais. Por fim, o terceiro eixo é voltado à difusão e apresentação de resultados, por meio da publicação de artigos, vídeos, notas técnicas e da realização de eventos que reúnem artistas, gestores, produtores culturais e representantes do poder público.

Ao vincular o patrimônio cultural à economia criativa, o estudo conduzido por Iphan e Obec sinaliza um novo paradigma para a política patrimonial brasileira. Em vez de se restringir à preservação simbólica de bens históricos, a pesquisa busca mostrar que o patrimônio é, também, vetor de desenvolvimento, fonte de renda, motor de inclusão social e campo fértil para a inovação.

Ao fim da pesquisa, espera-se não apenas consolidar indicadores até hoje inexistentes, mas também construir caminhos mais sólidos para que o patrimônio cultural brasileiro deixe de ser visto como ônus do passado e passe a ser reconhecido como ativo estratégico para o futuro. Um bem comum que, quando gerido com inteligência e respeito, gera riqueza, valor e pertencimento.

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