Condição básica para a produção de leite, a prenhez de vacas em fazendas leiteiras também poder ser um desafio para o produtor. Isso se dá porque, quando o bezerro gerado é macho, é como se o pecuarista tivesse em suas mãos um mico. Com genética leiteira, esse animal não produz leite (afinal, é macho) e nem carne (afinal, é de uma raça leiteira). O que fazer com essa cria?
O produtor Nico Biesterker, de Arapoti (PR), conta que já chegou a pagar pela retirada desse animal sem valor comercial, destinado ao abate sem ter atingido as condições mínimas para tal. “Isso é um apelo social e também um apelo do produtor, que não gostaria de fazer isso. Mas o que fazer com esses machinhos pequenos, que ninguém quer?”, questiona o pecuarista.
Incomodado com o destino desses pequenos animais e também preocupado em controlar o tamanho do seu rebanho, há cinco anos ele aderiu a uma estratégia importada da América do Norte: inseminar vacas de leite com sêmen de raças de corte. Chamada de Beef on Dairy, a prática permite aproveitar parte da cria para produção de carne e, ao mesmo tempo, melhorar o perfil genético do rebanho.
Dentro da Capal Cooperativa Agroindustrial, da qual Nico faz parte, outros sete produtores já aderiram a um programa de estímulo ao beef on Dairy, iniciado há três anos. As raças escolhidas para o cruzamento as vacas de genética holandesas e jersey foram sêmens de animais angus, reproduzindo a estratégia usada com sucesso nos EUA, e wagyu, visando mercados de maior valor agregado.
“O angus é o animal que tem gerado ganho genético em menor tempo e também com um melhor aproveitamento em relação ao que ele consome comparado à quantidade de carne produzida. Já com o wagyu temos um pretexto para receber um valor a mais pela arroba”, explica o nutricionista animal de pecuária na Capal, Dinarte de Almeida Garrett Neto.
Segundo ele, a avaliação genômica é a principal ferramenta utilizada ao longo do processo. É a partir da análise do potencial genético de cada vaca que o produtor vai decidir qual será inseminada com qual genética.
Os animais com menor potencial genético, ou seja, com menor capacidade de imprimir suas características a seus descendentes, recebem a genética angus ou wagyu não-sexado, dando origem a bezerros machos e fêmeas meio sangue. Já as vacas com alto potencial genético, recebem o sêmen sexado, com garantia que darão à luz a bezerras fêmeas de alta produtividade.
Em sua fazenda, o produtor Nico conta que já fazia uso de sêmen sexado nas vacas de maior potencial genético. Nas demais, contudo, a inseminação era feita com genética leiteira não sexada devido ao menos custo-benefício, gerando, portanto, animais de menor ou nenhum valor.
Com a nova estratégia, ele já conseguiu ganhos genéticos importantes. Desde 2019, o volume de leite produzido pelo rebanho dobrou e o teor de gordura, fundamental para produção de queijos e derivados, aumentou cinco vezes. “O tamanho do rebanho se manteve o mesmo, só que a eficiência aumenta porque você acaba ficando só com animais que realmente têm alta produção”, observa o pecuarista.
Nesse sentido, o nutricionista animal de pecuária na Capal ressalta que o principal benefício gerado pelo protocolo é o melhoramento do padrão genético do rebanho, já que os bezerros meio sangue, ao serem engordados e vendidos, resultam em uma margem de lucro mais apertada quando comparado a fazendas 100% de corte.
“O beef on dairy melhora o faturamento, sem sombra de dúvida, mas este é um negócio que vai além do valor criado financeiramente. Os produtores que adotam esse protocolo buscam acima de tudo um destino justo para esses animais que, em outro contexto, seriam descartados”, completa Neto.