O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, oficializou nesta terça-feira (4) a saída do país do Conselho de Direitos Humanos da ONU, órgão responsável por monitorar e denunciar violações aos direitos humanos ao redor do mundo. A decisão, assinada em decreto na Casa Branca, também inclui a suspensão prolongada do financiamento americano à Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), medida que fortalece a aliança entre Trump e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
Além disso, o governo americano propôs revisar seu envolvimento na Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), alegando que a instituição apresenta um viés “antiamericano”. O assessor presidencial Will Scharf declarou que a decisão reflete a estratégia de política externa de Trump, que prioriza interesses internos e enfraquece o compromisso dos EUA com organizações multilaterais.
A medida gerou forte repercussão internacional e acendeu debates sobre o futuro da diplomacia global, o papel dos EUA nos organismos internacionais e o impacto sobre milhões de refugiados palestinos que dependem da UNRWA para sobreviver.
Histórico conturbado dos EUA no Conselho de Direitos Humanos
O Conselho de Direitos Humanos da ONU foi criado em 2006 como um órgão intergovernamental voltado à proteção e promoção dos direitos humanos. No entanto, os Estados Unidos sempre tiveram uma relação instável com o grupo.
Quando o conselho foi fundado, durante o governo de George W. Bush (2001-2009), os EUA não aderiram como membro ativo, em meio à chamada “guerra ao terror”, marcada por acusações de abusos cometidos pelas forças americanas no Afeganistão e no Iraque. O país permaneceu apenas como observador até 2009, quando o governo Barack Obama decidiu se tornar membro pleno.
A entrada dos EUA fortaleceu o conselho, permitindo maior influência americana nas decisões globais sobre direitos humanos. No entanto, durante seu primeiro mandato (2017-2021), Donald Trump retirou os EUA da organização, alegando que ela apresentava viés contra Israel e necessitava de reformas.
O sucessor de Trump, Joe Biden (2021-2025), reverteu a decisão, reinserindo os EUA no conselho como parte de sua política de reaproximação com organismos internacionais. Porém, agora, Trump volta a cortar laços, repetindo sua estratégia nacionalista e de isolamento global.
A retirada dos EUA pode abrir espaço para maior influência de potências como China e Rússia, que já possuem histórico de embates com a ONU em questões de direitos humanos.
Impacto da suspensão de ajuda à UNRWA e crise em Gaza
O corte prolongado do financiamento americano à UNRWA pode gerar consequências devastadoras para milhões de refugiados palestinos que dependem da agência para alimentação, assistência médica e educação.
A UNRWA opera principalmente em Gaza, Cisjordânia, Jerusalém Oriental, Síria, Líbano e Jordânia, fornecendo serviços essenciais para cerca de 5,7 milhões de palestinos. A decisão dos EUA fortalece a posição de Israel, que recentemente rompeu todos os laços com a agência, acusando-a de envolvimento com o grupo Hamas.
Durante a assinatura dos decretos, Trump sugeriu novamente a remoção dos palestinos de Gaza, afirmando que eles “adorariam sair” do território. A declaração foi classificada por entidades de direitos humanos como uma tentativa de limpeza étnica e gerou críticas da comunidade internacional.
Israel, por sua vez, intensificou suas operações na Faixa de Gaza após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que deu início ao conflito atual. A infraestrutura do território foi amplamente destruída e, sem a UNRWA, as condições humanitárias na região devem piorar ainda mais.
O governo Biden já havia suspendido parte do financiamento à UNRWA em janeiro de 2025, após denúncias de que funcionários da agência teriam participado do ataque do Hamas. Nove pessoas foram demitidas por ligações com o grupo, mas a ONU ainda investiga o caso.
“América Primeiro”: Trump reforça política de isolamento
A decisão de Trump faz parte de sua política “América Primeiro”, que prioriza interesses internos e reduz o papel dos EUA em organismos internacionais.
Desde seu primeiro mandato, Trump tem demonstrado desconfiança em relação à ONU e outras organizações globais, alegando que muitas delas atuam contra os interesses americanos. A saída do Conselho de Direitos Humanos se soma a outras medidas semelhantes, como a retirada dos EUA do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas em 2017 e do Tratado de Céus Abertos em 2020.
A mesma lógica tem sido aplicada à Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que financia projetos de direitos humanos em mais de 100 países. A USAID está sendo alvo de uma “caça às bruxas” promovida por Trump e aliados, incluindo o bilionário Elon Musk, que lidera o recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). A agência é um dos principais financiadores de ajuda humanitária global, incluindo programas da ONU como o Alto Comissariado para Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para Migrações (OIM).
Reações internacionais e possíveis consequências
A decisão de Trump gerou indignação entre diplomatas e ativistas de direitos humanos ao redor do mundo. Críticos afirmam que a saída dos EUA enfraquece a luta global por justiça e igualdade, além de dar mais espaço para regimes autoritários que violam direitos humanos.
A Anistia Internacional criticou duramente a medida, chamando-a de “um grave retrocesso”. O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou preocupação e disse que espera que os EUA reconsiderem sua posição.
Por outro lado, aliados de Trump elogiaram a decisão, afirmando que a ONU precisa de reformas profundas e que os EUA não devem financiar instituições que, segundo eles, “trabalham contra seus interesses”. Apoiadores de Netanyahu também comemoraram o corte de recursos à UNRWA, alegando que a agência serve como uma ferramenta política para os palestinos.
No cenário global, a saída dos EUA do Conselho de Direitos Humanos e o corte de financiamento à UNRWA podem ter consequências de longo prazo, afetando não apenas a política americana, mas também a estabilidade no Oriente Médio.
Enquanto isso, o mundo segue atento aos próximos passos da administração Trump e aos impactos dessa decisão na geopolítica internacional.
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